# 89 Eduardo Medeiros
Nome: Eduardo Medeiros
Naturalidade: Almada
Idade: 54
Formação académica: Doutoramento e Pós-Doutoramento em Geografia (Planeamento Regional e Urbano)
Ocupação Profissional: Professor e Investigador
Outros: Perito da DG REGIO, AEBR, ESPON, e URBACT
1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
Sou professor de Geografia desde 2002 e doutorado em Geografia desde 2010, e trabalho em diversas áreas: coesão territorial, cooperação territorial, desenvolvimento territorial, ordenamento do território, avaliação de impactos territoriais …. Eu faço Geografia todos os dias em que trabalho, e procuro produzir conhecimento útil que possa ser usado para desenvolver o meu país e outros territórios.
2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
Estou a trabalhar em várias áreas. Destaco, contudo, o trabalho em curso com a Comissão Europeia na preparação de uma plataforma que avalie os impactos de projetos no domínio das cidades Sustentáveis, Inclusivas e Esteticamente Agradáveis e Funcionais. Este projeto pode valorizar a Geografia no sentido em que suporta uma perspetiva integradora e interdisciplinar dos investimentos públicos, e pelo facto de contemplar uma análise dos potenciais impactos territoriais dos projetos. Com efeito, no contexto da análise das políticas públicas, a Geografia tem uma relevância crescente, dado que é a ciência de excelência para a análise territorial. E a análise do território contempla, por defeito, uma visão holística e multidimensional dos impactos das políticas públicas. Aqui, o papel dos Geógrafos é fundamental pela sua formação multidisciplinar. Foi nesse contexto que recentemente coordenei um projeto do Portugal 2020, que produziu uma plataforma web-sig que automatiza o processo de produção e visualização de impactos territoriais de estratégias, políticas, programas e projetos: https://websig.iscte-iul.pt/ Este projeto, pro exemplo, valoriza a Geografia no sentido em que apresenta os scores de impactos através de cartografia (WEB-SIG), o que facilita a leitura dos mesmos e a tomada de decisão por decisores políticos.
3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Território, Multidisciplinar, Mapas.
4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
The Age of Sustainable Development, Jeffrey D. Sachs. É um livro que recomendo aos alunos de Geografia. Do ponto de vista conceptual confunde o conceito de desenvolvimento sustentável com o conceito de desenvolvimento territorial. Contudo, está muito bem organizado, com muita informação útil, gráfica, e atualizada sobre a necessidade de apoiar investimentos públicos que apoiem um desenvolvimento territorial mais sustentável.
5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
Penso que, sendo Geógrafo, consigo perceber determinados processos de desenvolvimento territorial de forma mais integrada e holística. Num mundo comandado por economistas, ouço, todos os dias, o racional da necessidade de apoiar processos de ‘crescimento’, não só por parte de políticos/académicos nacionais como internacionais. A minha formação em Geografia permitiu-me, contudo, perceber a diferença entre processos de ‘crescimento’ e ‘desenvolvimento’, e que, em última análise, as políticas públicas devem suportar processos de ‘desenvolvimento’ e, se possível, ‘coesão’ territorial. Na verdade, é possível termos processos de crescimento económico sem desenvolvimento territorial. Mas o termo ‘crescimento’ está tão enraizado no léxico dos economistas e políticos (influenciados por estes), que não é fácil passar a mensagem (tenho procurado fazer isso em vários eventos internacionais em que participei como orador convidado) de que as políticas públicas devem apoiar processos de desenvolvimento e coesão. O meu papel como Geógrafo é procurar passar essa mensagem. Recentemente estive nas instalações do POSEUR e perguntei aos gestores do programa o que era para eles ‘crescimento sustentável’ (o conceito que está no texto do programa), e razão por que não usam o termo ‘desenvolvimento sustentável’ que é, quanto a mim, o conceito mais importante do século XX. Como Geógrafo procuro fazer a minha parte no dia-a-dia para passar essa mensagem da importância de colocar os termos ‘desenvolvimento’ e ‘coesão’ no léxico das estratégias de desenvolvimento nacionais e internacionais. Aqui, tenho muito trabalho feito no domínio do conceito da Coesão Territorial, que é um conceito central da Geografia, e da importância de medir processos de Coesão Territorial para a tomada de medidas concretas que mitiguem processos de exclusão territorial. O meu mais recente trabalho neste domínio estará disponível em breve https://www.amazon.com/Public-Policies-Territorial-Cohesion-Urban/dp/303...
6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Eu tenho tido a sorte de ter colaborado com várias entidades internacionais que intervêm no desenho e implementação de políticas públicas. Como trabalho em domínios como a cooperação territorial, ordenamento do território, coesão territorial, estratégias integradas de desenvolvimento sustentável urbano, e avaliação de impactos territoriais, a minha formação em Geografia tem sido uma mais-valia para essa colaboração, e o convide para colaborar com essas entidades expressa esse reconhecimento pela minha formação profissional.
7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Diria aos dois para investir o máximo na sua formação, nomeadamente nas áreas com saídas profissionais como os SIG, a avaliação de impactos de políticas, e sobretudo na área da geografia urbana (cidades sustentáveis), num contexto de crescente urbanização de sensibilidade política para questões ambientais. Se possível publiquem dado que para serem reconhecidos como peritos de entidades internacionais precisam de apresentar trabalhos publicados. Por outro lado, escolham uma área que gostem para que todos os dias tenham prazer em trabalhar.
8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Desde o meu mestrado que estudo os impactos de processos de cooperação territorial na Europa, suportados por investimentos comunitários (Interreg). Assim, foi com interesse, por exemplo, que testemunhei uma crescente abertura de processos de cooperação e fluxos transfronteiriços entre Portugal e Espanha nas últimas décadas. Como é sabido, a recente pandemia do COVID-19 provocou um inesperado fecho das fronteiras um pouco por toda a Europa, na sua primeira fase. Tal facto provocou a necessidade de elaboração de imensos trabalhos sobre os impactos desse fecho de fronteiras nos processos de desenvolvimento das regiões de fronteira europeias. Neste contexto, e em colaboração os secretários-gerais das três principais associações de regiões de fronteira da Europa (AEBR, MOT e CESCI), logo no inicio da pandemia, publiquei um artigo (https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/09654313.2020.1818185) em que apresentamos o cenário de impactos iniciais dessa pandemia nas regiões europeias, do que denominamos por ‘covidfencing’ (um conceito que criei para este artigo e que entretanto tem sido usado por outros colegas, para denominar o fecho das fronteiras justificado pela pandemia do COVID-19). Nesse artigo apresentamos uma perspetiva espacial dos impactos do COVID-19, que foi posteriormente aperfeiçoada num estudo do ESPON sobre os impactos do COVID-19 nas cidades e regiões da UE (https://www.espon.eu/covid-19).
9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
Troia. É um local ainda paradisíaco, mas sobre constantes pressões urbanísticas (turismo) que podem pôr em causa a sustentabilidade ambiental da península. É um local onde dá para estudar questões relacionadas com o turismo, o urbanismo, a sustentabilidade ambiental. Enfim, vários aspetos da Geografia Física e Humana.


