Guia de Caracterização Profissional

Natureza do Trabalho

Os geógrafos estudam fenómenos físicos e humanos às escalas local, nacional ou mundial. Estudam a sua distribuição no espaço e procuram identificar os factores explicativos e as consequências dessa distribuição. A resposta à primeira questão é essencialmente descritiva; o estudo das causas e das inter-relações que explicam os padrões geográficos envolve teoria e análise. A geografia procura também interpretar os significados dos territórios, considerando, para o efeito, as dimensões identitárias dos lugares.

Com as informações recolhidas nos seus estudos, e após a análise das inter-relações entre os diversos fenómenos, os geógrafos elaboram estudos integrados, relatórios e mapas que caracterizam o espaço e os diferentes fenómenos físicos e humanos, emitindo pareceres e recomendações que são de grande importância no apoio às decisões políticas em variados sectores da sociedade, contribuindo com o seu saber e capacidade de interpretação do espaço para o ordenamento do território e para o desenvolvimento territorial equilibrado. Os seus trabalhos são particularmente utilizados na elaboração de Planos Regionais de Ordenamento do Território, Planos Directores Municipais (planos de ordenamento do território municipal) e no planeamento urbanístico, assim como na formulação e avaliação de políticas territoriais (locais, urbanas e regionais) ou sectoriais com impacte espacial (ambiente, economia, cultura, sociais, …).

A avaliação das situações de perigo e risco e os contributos para o ordenamento biofísico envolvem o estudo de fenómenos físicos. Neste sentido, são desenvolvidos trabalhos relativos à geomorfologia, o tipo de solo, as condições climáticas e a vegetação natural de determinada área. Estudam a evolução das formas de relevo – montanhas, vales, planaltos, …– e individualizam unidades geomorfológicas no território. Realizam, igualmente, estudos hidrológicos, especialmente sobre o funcionamento dos hidrossistemas (bacias hidrográficas e aquíferos). Os geógrafos dedicam-se, também, ao estudo e classificação das associações vegetais características de uma região: registam o tipo de plantas predominantes nos diferentes estratos (herbáceo, arbustivo e arbóreo) e a extensão de território que ocupam, classificando as associações segundo as suas características biogeográficas, como por exemplo as florestas (mediterrânica, equatorial, tropical), ou os ecossistemas agrícolas.

Em relação às condições climáticas, os geógrafos analisam, entre outros parâmetros, a variação da precipitação, a amplitude térmica, a velocidade e direcção dos ventos e a influência das altas ou baixas pressões atmosféricas. De acordo com as informações obtidas, cabe-lhes classificar o clima de uma determinada área em estudo, obedecendo às tipologias estabelecidas, assim como as suas diferentes cambiantes). O estudo do clima urbano – variações da temperatura, dinâmica particular do vento – e a avaliação do conforto/desconforto humano e a qualidade de vida nas cidades constituem os principais domínios de integração do clima no planeamento urbano.

Na perspectiva da análise da ocupação humana do território, os geógrafos estudam as dinâmicas natural e migratória da população, o tipo de povoamento, as dinâmicas da rede urbana (metropolização, urbanização difusa, policentrismo, …), as actividades económicas e a distribuição dos equipamentos e infra-estruturas. Igualmente relacionada com a ocupação do espaço está a análise das actividades económicas desenvolvidas pela população. Neste âmbito, os geógrafos registam, entre outros, o tipo de agricultura praticado (produtos cultivados, máquinas utilizadas, extensão de terreno cultivada, etc.), a indústria existente (produtos fabricados, localização das unidades fabris, factores de produção, etc.) e a presença do sector terciário (localização, diversidade das actividades, segmentação, mercados, etc.). Efectuam, ainda, estudos de programação dos equipamentos sociais, tais como os estabelecimentos de educação, saúde, desporto, culto e lazer, bem como a distribuição das infra-estruturas, designadamente vias de transporte, comunicação e logística.

Apesar das inter-relações entre fenómenos físicos e humanos, é normal estes profissionais optarem por trabalhar apenas numa destas áreas. Podem, inclusive, especializar-se num determinado tipo de estudos: económicos (dotação de recursos, especialização da base económica e dinâmicas de inovação), sociais e culturais (a coesão social, a etnicidade e as vivências e práticas culturais), políticos (relação do território com os fenómenos políticos locais, nacionais e internacionais), urbanos e de transportes (organização das cidades e das áreas metropolitanas), rurais (desenvolvimento local e capacidade institucional) e ambientais e paisagísticos (planeamento biofísico e defesa do património natural ou construído).

Para executarem o seu trabalho, os geógrafos recorrem com frequência a técnicas de análise estatística e às tecnologias de informação e comunicação. É o caso dos sistemas de informação geográfica, que permitem obter, armazenar, classificar, tratar e analisar informação espacialmente referenciada, essenciais para a identificação e explicação dos padrões espaciais e para a construção de modelos vocacionados para a intervenção no ordenamento do território. Como tal, são cada vez mais utilizadas as ferramentas computacionais na análise geográfica.

Além disso, para ser geógrafo é conveniente possuir, entre outras características, curiosidade científica, gosto pela observação e capacidade para interpretar os fenómenos naturais e humanos, facilidade em usar mapas e propensão para o trabalho de grupo. De resto, esta é uma profissão em que é raro o trabalho individual: dependendo do estudo em curso, assim se constituem equipas pluridisciplinares com arquitectos, arquitectos paisagistas, economistas, sociólogos, urbanistas, engenheiros civis, geólogos, meteorologistas, etc.

Emprego

Nesta profissão predomina o trabalho por conta de outrem, mas são cada vez mais frequentes os casos de trabalhadores por conta própria. As principais entidades empregadoras dos geógrafos têm sido as câmaras municipais ao nível local, as Comissões de Coordenação e de Desenvolvimento Regional ao nível regional e ainda os organismos da administração central com a tutela das cidades e planeamento, desenvolvimento regional, ambiente, ordenamento do território, agricultura e desenvolvimento rural, bem como as empresas privadas, que executam trabalhos na área do ambiente e do planeamento e ordenamento do território. Por último, a maioria dos geógrafos enveredou pela profissão de professor no ensino básico e secundário, maioritariamente no sector público.

É na região de Lisboa que se verifica uma maior procura, dada a concentração dos serviços e das principais empresas privadas. Destaca-se também, alguma procura no Porto e nas câmaras municipais com mais recursos. A procura é mais generalizada ao território nacional apenas quando se trata do sector do ensino, e, desde a segunda metade da década de 90, do sector dos sistemas de informação geográfica.

Formação e evolução na Carreira

Para ser geógrafo é necessário obter uma licenciatura em Geografia (v. http://www.dges.mctes.pt/DGES/pt). Estes profissionais devem possuir uma formação de banda larga, pelo que é importante que os cursos confiram conhecimentos, para além das matérias centrais em geografia física e geografia humana, em geomorfologia, climatologia, ambiente, história, economia, sociologia, transportes e planeamento territorial, bem como em métodos e técnicas de análise, compreendendo conhecimentos de estatística, informática, cartografia, teledetecção e sistemas de informação geográfica. Quem desejar prosseguir os estudos, no sentido de obter uma maior especialização, pode fazê-lo frequentando um curso de pós-graduação (cursos de especialização, mestrado e doutoramento).

A carreira do sector público inicia-se com um estágio de doze meses e a evolução processa-se de acordo com o mérito, o tempo de serviço e a existência de vagas (v. http//www.dgap.gov.pt). Os docentes de Geografia do básico e secundário que pretendam aceder à carreira  de professor/a, é necessário frequentar o Mestrado de Ensino em Geografia - 2º ciclo. Os cursos de mestrado tem uma sólida formação em didáticas e unidades curriculares importantes para o exercício da docência e uma componente prática com observação de aulas e prática letiva. Após a formação, podem aceder à carreira por concurso público ou em instituições privadas. A progressão na carreira no ensino público é sujeita a avaliações periódicas e a formação na área científica é imprescindível. A obtenção de outros graus mestre ou doutor na área científica também é considerada e resulta em bonificações no tempo de serviço. 

No sector privado, a carreira é definida de acordo com a política de recursos humanos delineada pela organização, podendo, por isso, variar consoante a entidade empregadora. Contudo, na maior parte dos casos, a carreira inicia-se com um estágio (6 ou 12 meses) e a evolução processa-se em função de aspectos como a dimensão e tipo de actividade que caracterizam a organização, bem com a experiência e conhecimentos demonstrados pelo indivíduo.

Condições de trabalho

Os trabalhos dos geógrafos são executados em estabelecimentos de ensino, gabinetes e no exterior (trabalho de campo). Nos gabinetes, o trabalho compreende a análise de fontes documentais (bibliografia, relatórios e outros documentos), a recolha e tratamento de informação estatística, a elaboração de elementos gráficos e cartográficos com recurso às tecnologias de informação e de comunicação. No exterior, o ambiente é muito diverso: o trabalho de campo está sujeito às contingências climatéricas, às dificuldades de deslocação e permanência em espaços despovoados ou em cidades com muita população; por outro lado, é necessário estabelecer contactos directos com a população e com diversos agentes públicos e privados.

O horário dos que estão vinculados à administração pública é de 35 horas semanais. Quanto aos que trabalham em empresas privadas, cumprem um horário de 40 horas por semana, que pode ser alargado quando realizam trabalho de campo.

Perspectivas

O mercado de emprego dos geógrafos atravessa uma fase de profunda transformação, devido às dificuldades no ingresso na carreira do ensino básico e secundário, sector que continua a empregar a maioria dos geógrafos. As oportunidades ao nível da administração pública (central e local) são muito importantes, porém, a conjuntura, no curto prazo, não é muito favorável devido a limitações da despesa pública. A oferta de emprego no sector privado está em crescimento e adquire já uma certa expressão que permite antever uma mudança nas saídas profissionais dos geógrafos, tendo alguns constituído empresas com grande projecção no mercado do ordenamento do território e dos sistemas de informação geográfica.

Para os que apostem numa carreira na administração pública (central ou local) ou numa empresa privada é conveniente considerar as novas áreas de trabalho em que geógrafos podem intervir, como o ambiente, o turismo e o lazer, a gestão de informação de base territorial, a comunicação, o marketing territorial, a protecção civil... No futuro, é provável que as maiores alterações relacionadas com o desempenho da profissão se verifiquem na forma de tratar a informação e de a dar a conhecer.