# 88 Margarida Marques

Nome: Margarida Marques
Naturalidade: São João de Deus, Lisboa
Idade: 25 anos
Formação académica: Licenciatura em Geografia e Planeamento Regional (NOVA-FCSH); Pós-Graduação em Gestão do Território, área de especialização em Ambiente e Recursos Naturais (NOVA-FCSH); Mestrado em Ensino de Geografia no 3.º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário (NOVA-FCSH).
Ocupação Profissional: Professora de Geografia no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário
Outros:

1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
Sou professora de Geografia no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário. Fiquei colocada este ano letivo no Agrupamento de Escolas Nuno Gonçalves, em Lisboa.

2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
Atualmente estou envolvida num projeto que considero importantíssimo para valorização da Educação Geográfica em Portugal. A APG e a APROFGEO convidaram-me no final do mês de junho para acompanhar, enquanto Team Leader, a equipa de alunos que representou o nosso país nas Olimpíadas Internacionais da Geografia. Sendo a primeira participação face-to-face desde 1998 o impacto foi muito positivo. Enquanto responsável pelos alunos, durante a competição, recebi diversos elogios de outros Team Leaders em relação à prestação e comportamento de excelência da nossa equipa. Considero que é um projeto que ambas as associações devem manter pela valorização da Geografia nacional e internacional, ao qual gostaria de continuar a contribuir. Desde que terminei o mestrado tenho vontade de progredir minhas aprendizagens. Gostava de estudar Administração Escolar e no futuro conseguir desenvolver um projeto de investigação na temática da Educação Geográfica. Considero que é essencial continuar a desenvolver as minhas competências, de forma a melhorar a minha prática pedagógica. 

3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Problematização, Meio e Sociedade.

4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
“A Terra Inabitável” de David Wallace-Wells
Este livro prendeu-me às suas páginas até o terminar. Marcou-me pela apresentação de factos dolorosos e pertinentes. Tive momentos de reflexões profundas em que questionei constantemente o impacto do Homem no Meio, e das próprias decisões que estamos a tomar enquanto sociedade. É um livro para todas as idades, que através de uma escrita narrativa apresenta argumentos científicos de diversas áreas disciplinares em relação à evolução das alterações climáticas. 

5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
Ser geógrafo é ser inquieto com o Meio que nos rodeia. É procurar respostas às questões mais simples do quotidiano, mas que condicionam a vida da população. Atualmente temos diversos investigadores portugueses a estudar tantos temas da nossa ciência, questões tão pertinentes, atuais e multidisciplinares que me fascinam. Enquanto Professora de Geografia tento partilhar diariamente com os meus alunos a paixão por esta ciência. Faço-o demonstrando a importância que a Geografia tem no seu quotidiano e como é que estas competências disciplinares vão ser importantes para a sua vida futura. Gosto de apresentar a Geografia como a ciência que resolve os problemas do território. O uso das metodologias ativas de aprendizagem como uma ferramenta de desenvolvimento de competências disciplinares e transversais, cativa-os à investigação e à descoberta dos problemas no território. Sei que parte do meu gosto e vontade para estudar Geografia nasceu durante as aulas na escola básica e secundária. Quero ter nos meus alunos, o impacto que os meus professores tiveram em mim. Se isto for sempre acontecendo, continuaremos a ter geógrafos com vontade de mudar o mundo. 

6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Encontro-me numa fase inicial da carreira, sou professora há três anos. Ainda tenho um grande caminho para fazer! Até aos dias de hoje senti um grande reconhecimento dos meus amigos de curso, dos colegas nos colégios em que trabalhei e dos meus orientadores. Tenho imensa vontade de continuar a valorizar a disciplina de Geografia no meio escolar. Sei que isso só é possível com muito trabalho, inovação e dedicação. Gostava de contribuir de diferentes formas com projetos de investigação na área da Educação Geográfica e apoiar o trabalho cooperativo que é feito pelos professores na APROFGEO.

7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Tenho a dizer para aproveitarem ao máximo os tempos na Faculdade. Envolverem-se em projetos de investigação, juntarem-se aos núcleos e associações de estudantes, combinarem entre colegas saídas de campo, fazer Erasmus ou Almeida Garrett. O nosso envolvimento determina sempre as nossas perspetivas futuras. É da responsabilidade de cada um de nós garantir que luta pelos seus sonhos. Há inúmeras hipóteses depois de terminar o curso, umas mais rápidas e óbvias do que outras, mas nunca deixem de lutar. Considero que as formações contínuas são essenciais nos anos após a saída da faculdade. Dentro de cada uma das áreas de especialização procurem formas de estarem sempre atualizados, como seminários, congressos, encontros e workshops. 

8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
O valor da renda locativa nas grandes cidades é a questão que cria mais debate nos diversos espaços de tertúlia em que estou inserida, sejam eles a sala de aula, grupos de WhatsApp ou até mesmo uma mesa de esplanada de um café. Atualmente é o acontecimento que mais me inquieta e condiciona todos os dias a minha geração. Os preços exagerados de um quarto ou de um simples estúdio na AML e na AMP influenciam os jovens nas suas escolhas e decisões. Observo os alunos de secundário muito preocupados com este tema. Há anos que este é o grande problema dos estudantes universitários, mas também de todos os jovens que tencionam iniciar a sua vida. Consequentemente, está a afetar a Educação em Portugal. Um dos motivos da ausência de Professores em diversas cidades do nosso país é o valor da habitação. As estratégias encontradas para a mitigação deste problema foram muito reduzidas comparativamente à sua dimensão.

9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
Uma pergunta muito difícil…. Adoro o meu país. Graças aos meus pais e aos escuteiros desde cedo visitei diversos lugares em Portugal. Recordo-me de ter 6 anos e de conseguir decorar caminhos e orientar-me em sítios novos. Perguntava-me durante essas viagens de veraneio a justificação para determinado lugar ter aquela paisagem. De forma inocente e inconsciente necessitava de compreender a ausência de pessoas nos espaços, pois o meu quotidiano era em Lisboa. Para esta pergunta tenho uma grande resposta, a cidade de Lisboa. Um pouco polémica, mas muito pessoal. Atualmente tenho uma relação de amor-ódio com Lisboa. Como respondi na questão anterior, o grande problema da habitação impede os jovens de construírem a sua vida no lugar onde cresceram. Acrescentando também o problema da mobilidade leve… Contudo, contínuo a admirar todos os aspetos positivos desta cidade. Lisboa não se conhece em dias, temos de nos perder e encontrar. É preciso caminhar sem destino para descobrir algo novo. O quotidiano impede a observação. A cidade está cheia e pormenores e de histórias especiais. Mais do que observar é necessário estar envolvido com as pessoas, como pede o trabalho de campo. Existem diversas rotas interessantes, com pontos mais ou menos conhecidos. Atualmente recomendo a visita à zona Oriental da cidade. A faixa ribeirinha da Praça do Comércio até ao Parque das Nações está a terminar um processo de requalificação integral. Recomendo o percurso retilíneo entre a Rua de Xabregas, a Rua do Grilo e a Rua do Açúcar. Quem visitou aquela zona da cidade antes de 2018, encontra atualmente um espaço completamente diferente.