# 84 Aquilino Machado

Nome: Aquilino Machado 
Naturalidade: Lisboa 
Formação académica:  Mestre e Doutorando em Geografia Humana, Especialista em Turismo e Lazer, atribuído pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Lisboa (ESHTE). 
Ocupação Profissional:  Professor Assistente convidado no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território e Professor Adjunto Convidado na Escola Superior de Hotelaria e Turismo o Estoril.

1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
Logo após a conclusão da licenciatura em Geografia e Planeamento Territorial encetei a minha colaboração com a Parque EXPO’98, a sociedade de capitais públicos criada para realizar a Exposição Mundial de 1998 e requalificar a frente ribeirinha oriental da cidade de Lisboa. 
Numa primeira fase, em regime de prestação de serviços, e a partir de Setembro de 1997, vinculado por contrato de trabalho sem termo, como Técnico Superior. Uma ligação que durou quase 15 anos, só quebrada quando o acionista Estado decidiu liquidar e extinguir esta sociedade. Foram tempos de enorme aprendizagem, com funções diferenciadas. Assim, estive, numa primeira fase, alocado à Direção de Operações EXPO’98, onde ajudei a desenvolver os conteúdos programáticos dos manuais de formação e a coordenar o respetivo projeto editorial. Incumbência de forte articulação com a Geografia, já que o próprio âmbito temático do evento – “Os Oceanos, um Património para o Futuro” – procurava servir de pretexto para uma larga abordagem acerca da integração do ambiente e dos seus recursos para o desenvolvimento sustentável do planeta. Mas também porque alguns dos dossiers formativos incidiram no entendimento dos problemas urbanísticos e ambientais que emergiam na área escolhida para a intervenção. 
Após o encerramento da Exposição Mundial, o meu envolvimento repercutiu-se, essencialmente, no âmbito da Gestão Urbana do Parque das Nações. Correspondeu ao período de Revisão do Plano de Urbanização da Zona de Intervenção da EXPO’98, sob coordenação do arquiteto Luís Vassalo Rosa. Acompanhei de perto este processo, o que me permitiu reforçar o entendimento das principais etapas e passos de tramitação dos processos de elaboração de Planos Municipais de Ordenamento do Território.
Foi também o tempo em que decidi apostar numa formação avançada, candidatando-me ao mestrado em Geografia Humana e Desenvolvimento Regional, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tal ensejo levou-me a desenvolver uma tese que tratou de estudar as exposição do Mundo Português e da EXPO’98, e o modo como a partir destas duas intervenções se estruturaram os respetivos espaços públicos, atendendo à influência das correntes arquitectónicas e urbanísticas então vigentes. Tese que viria a merecer interesse editorial, em 2006, numa coleção organizada pela Parque EXP0 – coleção EXPOente - de belíssimo alcance, pela diversidade de autores e temas que veio a tributar. 
Encetava então a minha ligação ao Centro de Estudos Geográficos, colaborando como investigador em alguns projetos coordenados pela Professora Isabel Margarida André - que orientara a minha tese de mestrado e que viria, anos mais tarde, a ter um papel decisório no projeto de doutoramento - sobretudo naqueles que tinham na cultura e na arte o escopo de explicação da inovação sócio-territorial e do desenvolvimento dos meios criativos em contexto urbano. 
A Parque EXPO desencadeava novas etapas de realização, primeiro com os Planos Estratégicos ligados ao Programa Polis, depois com a concepção de soluções integradas de planeamento e gestão do território, e a minha trajetória esteve, então, ligada a esta concatenação. 
No remate desta colaboração estaria vinculado ao Gabinete de Apoio ao Conselho de Administração, onde desenvolvi um projeto que entendo merecedor de nota, e que levaria o  nome de “Portal do Conhecimento”. Nele promovemos a criação de mecanismos tendentes a utilizar mais intensamente o conteúdo técnico dos trabalhos académicos dos seus colaboradores. Mas foram também criadas pontes com aqueles que investigavam nas academias universitárias. Assim, foi aberto um espaço a todos aqueles que no meio universitário trabalhavam e refletiam sobre a mutação dos territórios. Deste modo, foram convidados vários especialistas universitários a apresentarem matérias tão diversificadas, como por exemplo, a arquitetura, o urbanismo e a geografia, no contexto duma interpretação territorial que foi da cidade coesa à cidade fragmentada, da região urbana ao espaço regional envolvente. E o resultado foi uma ponte consolidada e firme em função da capacidade dos seus criadores. 
Nos últimos dez anos reorientei o meu percurso profissional: Defendi provas públicas para atribuição do título de Especialista em Turismo e Lazer, na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE), apresentando um trabalho de investigação em turismo literário; e comecei a dar aulas no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), como professor assistente convidado, a que se junta presentemente a docência na ESHTE, como professor adjunto convidado. 
Acrescento o desenvolvimento de um projeto de doutoramento, que explora a importância dos territórios literários nas cidades de Lisboa e de Paris, e o reconhecimento dos movimentos insurgentes do princípio do século XX. Esta perspetiva levou-me a endossar o foco da minha exegese para os campos da geografia literária e do turismo cultural, mas também para o mapeamento da representação da memória urbana, 
Tal ensejo incitou-me a experimentar nos últimos anos a aventura da escrita de argumentos para documentários, e a elaborar guiões para itinerários culturais de cariz iminentemente urbano. Neles persiste um fio condutor que faz uso da interdisciplinaridade geográfica, sobretudo na representação dos lugares de memória e na procura de uma ideia de cidade que reforce o sentido plural da palavra cidadania. 

2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia? 
Ajudar a dar o laço final num projeto que terá o seu primeiro andamento já em finais de maio de 2023, e que intenta desenvolver uma estratégia de valorização territorial, alocada ao concelho de Paredes de Coura, através da exploração de paisagens literárias. O primado desta estratégia inovadora de desenvolvimento local rege-se, como é natural, na valorização de algumas dimensões fiéis à Geografia, nomeadamente as que intentam perscrutar a produção cultural da paisagem, e os sentidos simbólico e emocional dos lugares literários. Mas também pelo apelo inovador que ampara, ao fazer uso de instrumentos de cooperação entre as entidades locais, com o intuito de consolidar um discurso culturalmente mais amplo, que faculte o estabelecimento de novas pontes de entendimento e integração. E numa escala de atuação mais ampla, que entendemos  ser possível, tendente a fortalecer o capital relacional intermunicipal, e a consagrar um “território de articulações”, que reflita o compromisso e a cooperação entre as partes envolvidas e a assunção de responsabilidades por todos. Outrossim, continuar a alimentar uma rede de investigação que se escora em torno turismo literário, projeto que acalento juntamente com alguns investigadores da ESHTE e da Universidade do Algarve. e que tem como principal desígnio para o presente ano a organização de umas jornadas de reflexão sobre a importância do desenvolvimento deste turismo de nicho cultural, em contexto nacional.  

3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Território, Lugar e Cidadania

Poderia optar pela dimensão polissémica do termo Paisagem, que aos olhos de alguns se tornou tão vasta que já não quer dizer nada; mas que para muitos outros, como bem defende Michel Collot, terá nesta polissemia a riqueza da sua noção.
No entanto, escolhi o conceito Território, já que se afigura bem mais indispensável para o domínio da geografia literária urbana, quando nos remete para uma ideia de um espaço socialmente apropriado e politicamente construído. Roubando uma ideia de Álvaro Domingues, “ao invés de corresponder a uma definição clara, estática e universal, território possui uma historicidade mais ou menos problemática ou conflituosa, variação enorme de afloramentos através dos quais se manifesta” (2018: 21). Assim, a dinâmica e a construção são a força da sua projeção. 
Lugar, porque se afirma com uma expressão idiomática, já que tanto reflete a percepção vidaliana dos grandes conjuntos da organização -  naturais e humanos -, como estriba uma percepção mais ligada à Geografia Cultural, na esteira dos trabalhos de Yi-Fu Tuan e  do seu “sentido do lugar”, e da sua expandida problematização para outras áreas do saber. 
Cidadania, pelo alcance que adquire nos tempos hodiernos, tão ligada a uma consciência colectiva de intervir na pluralidade territorial, de forma a contrariar as expressões de injustiça e segregação espaciais. 
Mas também pela expressão tão relevante que alcança nas preocupações da educação geográfica. Neste contexto, não podemos ocultar o admirável trabalho desenvolvido pelo projeto “Nós Propomos”, criado no IGOT, Universidade de Lisboa, em 2011, e que tem desenvolvido uma constelação de iniciativas, já presentes em oito países iberoamericanos, ao mobilizar escolas, alunos e professores de Geografia do Ensino Secundário do 11º ano e de outros níveis e graus de ensino. “Se quisermos um ponto de Arquimedes para contar a nossa história comum”, usando uma expressão de Viriato Soromenho-Marques, então esta prática inovadora de educação geográfica poderá ser o lugar adequado para reforçar e ampliar a cidadania territorial 

4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Talvez, “Paris, capital of modernity”, de David Harvey, um livro de 2003, sob chancela da Routlledge, Taylor & Francis Group, New York, mas que tem permitido uma disseminação de enorme prodigalidade através de tantas edições, por vários cantos do mundo. É uma obra fascinante, de largo alcance reflexivo, e que pauta o seu ritmo de discussão na premissa de que as transformações urbanas parisienses ocorridas no século XIX, pela influência da revolução haussmaniana, surtiram num aumento das injustiças de  organização espacial, económica e urbana. 
E fá-lo realçando a forma como os grandes romances se articulam com a história do urbanismo, sobretudo no limiar do trajeto ficcional balzaquiano, aqui visto como um espaço “humano, social, político, cultural e moral cujas contradições o relato trata de desnudar”, conforme nos dilucida o professor Carlos Reis. 

5 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? 
Transmitia a ideia de que a formação universitária em Geografia se revela no tempo de aprendizagem para uma cidadania territorial, mas também da procura de um caminho próprio. E que estivesse ciente que os caminhos para este conhecimento são como um exemplo alegórico de uma biblioteca que começa por ter estantes vazias e que se vai enchendo de livros. E que pode mesmo recheá-la de livros fazendo que as fronteiras da sua biblioteca possam coincidir com as fronteiras do próprio mundo.  
Talvez por isso, levasse a recordar um exemplo marcante da minha licenciatura, falando-lhe de uma das aulas mais apaixonantes que retive, e que me foi oferecida pelo Professor Jorge Gaspar, no mítico auditório 2, da Faculdade de Letras. Numa preleção inserida na disciplina de Geografia Humana I, onde aquele Professor nos falou de um livro que lera há pouco tempo: a “Patagónia”, de Bruce Chatwin, e que na altura, se obsequiava  num nome totalmente desconhecido na minha cena literária. No entanto, a forma como dissertou sobre o seu enredo, elíptico e realista ao mesmo tempo, veio a revelar-se importante para a minha educação geográfica e, simultaneamente, para o preenchimento de algumas estantes com incontáveis livros daquele escritor.  
Mas também lhe falaria da visão de conjunto que nos é oferecida pela Geografia, e que decorre do cruzamento dos dois campos do saber – ciências naturais e ciências sociais – e que só pode ser potencialmente alcançada se conseguirmos garantir uma formação sólida em termos de conhecimento. Por isso lhe transmitiria ser importante a sua adesão ao desenvolvimento de metodologias de ensino que privilegiem a reflexão crítica em grupo, de forma a estimular o questionamento geográfico, e assim problematizar em conjunto sobre a sociedade atual e o ordenamento do território.  
Por fim, falar-lhe-ia do aproveitamento de um dos métodos mais estimulantes do conhecimento e que decorre da organização das visitas de estudo, um recurso didático de capital importância no ensino da Geografia. Tal ensejo levar-me-ia a relembrar, uma vez mais, o Professor Jorge Gaspar, por via da visita de estudo aos Portos Fluviais do Tejo. E do largo alcance que esta visita continha no entendimento da navegação no Tejo e da organização da economia do solo feita a partir da cidade de Lisboa. Mas também porque através dela muitos alunos terão preservado para sempre a relevância de apreender o texto que lhe dava corpo. E assim, retermos simbolicamente a importância de ler constantemente artigos científicos, porque só assim conseguimos privilegiar a segurança dos conceitos, o tempo da reflexão e o amadurecimento das ideias. 

6 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Pode parecer paradoxal a escolha deste tema, mas as razões que lhe subjazem explicam o propósito da opção. Há poucos meses celebraram-se oito anos que um cinema, de um produtor independente, foi inaugurado no centro histórico de Lisboa. De nome Ideal, localizado na rua do Loreto, junto ao Largo do Camões, tem-se revelado, nestes tempos de inclemência turística na cidade histórica, num dos mais desassombrados projetos culturais que nos podemos orgulhar. Para além de uma programação centrada no cinema independente, a sua relação com a comunidade de acolhimento averba uma das forças motrizes mais expressivas da sua estratégia. Mas este exemplo alerta-nos para uma escala de sismicidade mais ampla. Na verdade, para além dos efeitos imediatamente visíveis, outros há diferidos no tempo e de alcance muito vasto, sobretudo, aqueles que se reportam à crise estrutural de acesso à habitação. Mas nos marcadores de regressão do direito à cidade, também observamos um estilhaçamento da cartografia dos lugares culturais, que tanta importância adquiriam na cidade popular. Um exemplo inquietante é o que tem vindo ocorrer com o desaparecimento do mundo social de associações culturais populares que gravitava em redor do eixo Rua da Palma-Avenida Almirante Reis, num contexto de turistificação que parece não cessar nem abrandar. Por isso, o ensaio de resistência do único cinema do centro histórico de Lisboa é um acontecimento digno de valorizar e festejar. 

7 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
Desconstruo o repto repartindo-o por dois territórios tão opostos, e que parecem comprazer um simbólico tributo queirosiano, já que um se situa na cidade e outro no contexto rural, no ritmo dos lugares serranos. Começando pela cidade, talvez recomendasse o Bairro de Alvalade, em Lisboa. A razão prende-se com o estimulo que se retira do seu reconhecimento: um laboratório eclético no desenho urbano, que premeia os elementos morfológicos da cidade tradicional, da cidade-jardim e do movimento moderno, conforme nos explica de forma tão elucidativa a tese de doutoramento de Pedro Costa. O bairro consolidou-se e adaptou-se a um conjunto de circunstâncias urbanas que marcam a matéria-prima das nossas vidas. Contemporaneamente, afirma-se como um território de memórias fortalecidas, umas mais distantes, projetadas nas tertúlias dos cafés e na vida incessantemente vivida das avenidas de Roma e da Igreja, onde despontava também a força benigna dos cinemas e das livrarias; outras mais recentes, que levaram à projeção de inúmeras cenas culturais alternativas. Ou seja, nele podemos perscrutar os tempos de “Os Verdes Anos”, quando este território adquiria o estatuto de Bairro Moderno, muito pela força da aplicação dos princípios urbanísticos do modernismo, como também sentir um mundo onírico que nos leva a descobrir os cafés e as tertúlias que desaguavam na Avenida de Roma, e que se encontram eternizados no cinema e na literatura.  Mas o compasso guiar-nos-ia, igualmente, pelos territórios anteriores ao Bairro de Alvalade, escorados na ocupação rural e nalguns aglomerados de casas que acompanhavam as estradas ou caminhos. Na verdade, o Plano de Urbanização de Alvalade contemplou a integração de algumas preexistências, espelhando um trajeto inovador de vocação culturalista, nomeadamente aqueles que se compadeceram junto à linha de cintura devido à fixação de um conjunto de indústrias. como as que se situavam paredes-meias com a Travessa Henrique Cardoso, uma chanfradura de associativismo proletário, onde brotaram tipologias de alojamentos para as classes laboriosas, como eram então apelidadas, entre as quais a Vila Antunes, construída nas traseiras de um belo edifício. Mas arvoraria também no seu âmago uma coerência funcional em torno de inúmeras carvoarias, padarias, tabernas e casas de pasto que davam a esta travessa um sentido único de advento proletário. 
Em suma, uma visita de estudo imperdível para compreender a importância da representação dos lugares de memória da cidade de Lisboa. 
A segunda proposta calcorrearia o território literário das Terras do Demo, cenário serrano marcado pela inclemência do recuo demográfico, do despovoamento e do abandono do solo agrícola, mas que enuncia uma projeção ficcional de largo espectro, através da obra literária de Aquilino Ribeiro. 
Deste território de aldeias montesinhas que moram no picoto da Beira, fala-nos o geógrafo Carlos Alberto Medeiros, num belo artigo de 1985, intitulado “Terras do Demo, aspetos geográficos”, ao referir que a área “planáltica da Beira que fica um pouco a norte da Cordilheira Central e tem a sudoeste a Serra do Caramulo; outros relevos situados para norte desta, designadamente os que alguns geógrafos chamam Maciço da Gralheira (em sentido lato), separam-na da faixa litoral do país. Aquém Douro nos seus confins setentrionais, a referida área estende-se a oriente até às imediações do Távora, sem atingir o rebordo montanhoso, sublinhado por um conjunto de fortificações estratégicas medievais, e a leste do qual planaltos mais baixos vão até à fronteira e se prolongam por território espanhol (superfície da Meseta)”. 
Nalguns aspetos que vale a pena realçar, a obra literária contida nestas Terras Demo remete-nos  para uma intensidade tão forte que a presença física dos sítios se revêm nas evocações dos textos e na memória dos feitos que ali terão ocorrido. 
E assim, ao percorrê-la sentimos um apelo sensorial que se pauta nas “variações anuais e diárias da paisagem”, e para isso basta-nos transcorrer a leitura dos livros “Aldeia” ou “Geografia Sentimental”.
Mas também uma fortíssima presença de uma narrativa autobiográfica que se enlaça em alguns lugares físicos: a aldeia do Carregal e o pátio dos Sanhudos, cenário da meninice de Aquilino, efabulada em “Cinco Réis de Gente”, o Santuário da Lapa, onde o escritor estudou num colégio eclesiástico, e que contém a beleza inclemente de “Uma Luz ao Longe”, ou a ficção de A Via Sinuosa, através das ruínas clamorosas do Convento de São Francisco de Caria e do percurso de Libório Barradas, uma espécie de alter-ego do escritor; mas também a Serra da Nave, essa geografia de infinitos penedios e de “mato galego, em que entra toda a casta de arbustos, sargaço, fieito, carpanta, bela luz, rosmaninho, esteva”. 
Deste entendimento procede a ideia de que os espaços emocionais que se esboçam em torno dos territórios literários refletem uma dimensão equivalente à que o geógrafo Bertrand Lévy refere como uma geografia sensível e apeladamente humanista e poética. Talvez seja por isso que comportam um sentido de transcendência que nos ajuda a apreender e a reter o sentido rítmico das Terras do Demo.