# 65 Maria Pacheco
Maria Pacheco | Geógrafa; Doutoranda na Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Nome: Maria Oliveira Pacheco
Naturalidade: Valongo, Porto, Portugal
Idade: 24 anos
Formação académica: Mestre em Sistemas de Informação Geográfica e Ordenamento do Território
Ocupação Profissional: Geógrafa
Outros: A iniciar Doutoramento em Geografia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
1 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Para quem, como eu, está mais ligado(a) à Geografia da Saúde, recomendaria o livro “GIS in Public Health Practice”, de 2004. Neste livro é feita uma reflexão de vários autores acerca da importância e aplicabilidade dos SIG na saúde pública. Considero que é um livro extremamente útil para o estudo do mapeamento das doenças e da análise espacial do seu comportamento. Por outro lado, revela-se importante pelo facto de tratar também das aplicações dos SIG no controlo das doenças infeciosas – um tema atual e pertinente -, bem como pela proteção ambiental contra as doenças, a partir de opções de planeamento e políticas adequadas.
2 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
Quando iniciei o meu percurso académico, na licenciatura em Geografia, o Professor João Garcia, na sua primeira aula de Cartografia, disse-nos que um Geógrafo é um ser muito “estranho”, pois não olha para o mundo com os mesmos olhos que uma pessoa comum, e que chega a uma dada altura em que começa a ver coisas “estranhas”. Na altura, essa afirmação ainda não fazia sentido para mim, mas ficou na minha cabeça. Hoje penso que ser Geógrafo nada mais é do que ter um olhar muito criativo e crítico sobre os mapas, sobre as paisagens, sobre a organização do território, a distribuição das pessoas e a sua interação com o espaço. Eu sinto que, seja qual for a matéria, tenho sempre forma de contribuir enquanto Geógrafa, por mais pequeno que o meu contributo possa ser.
3 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Apesar do meu ainda curto percurso, tenho sempre ficado com a ideia que sim, sou reconhecida. No meu contacto no âmbito da investigação, com colegas de outras áreas, como a Epidemiologia, fiquei sempre com a ideia que o grupo de Geógrafos sempre foi reconhecido e que enriqueceu os resultados e conclusões com a sua capacidade de análise espacial dos fenómenos.
Na minha atividade atual, a minha formação em Geografia tem se revelado extremamente importante pelo facto de ter a capacidade de criar uma visão holística sobre os mais variados assuntos e a sua relação entre si, no espaço. E este mesmo reconhecimento tem-se expressado também pela capacidade, não apenas de produzir mapas, mas essencialmente pelo facto de ser capaz de os interpretar e compreender o que estes nos querem dizer.
4 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Em primeiro lugar, uma vez que me sinto otimista em relação às perspetivas para o futuro dos Geógrafos, começaria por incentivar a sua formação e dedicação ao curso. Diria também que terão a oportunidade de perceber que a Geografia não é apenas sobre o espaço físico, mas também sobre as pessoas, resultando da dinâmica entre o espaço e o Homem. Assim, acaba por constituir uma ferramenta que permitirá que se afirmem em várias áreas. Desde a área da Saúde, Criminologia, Climatologia Aplicada, entre outras áreas completamente distintas.
Aos Geógrafos mais jovens que se têm vindo a cruzar comigo, vou incentivando a não desistir, pelo grande potencial que vejo na nossa formação. Considero que a partir do momento em que nos identificamos com uma área específica da Geografia, que realmente nos dá gosto aprofundar, devemos procurar saber que caminhos podemos seguir a partir daí. Tento também incutir que pelo facto de termos a capacidade de ter uma visão holística sob determinados assuntos, temos também que utilizar essa aptidão com responsabilidade, pois a complexidade de cruzamento de sistemas obriga a isso mesmo.
5 - Queríamos pedir-lhe que escolha um acontecimento recente, ou um tema atual, podendo ambos ser de âmbito nacional ou internacional. Apresente-nos esse acontecimento ou tema, explique as razões da sua escolha, e comente-o, tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Não sei se o tema que escolhi se refere exatamente a um conhecimento, mas sim resultado de um acontecimento. Não querendo ser repetitiva com o tema da COVID-19, gostaria de aproveitar para mostrar o meu descontentamento, enquanto jovem Geógrafa Investigadora que tem um grande gosto em estudar a relação entre a saúde e a Geografia. Este não é um tema consensual entre a comunidade científica, mas na minha opinião sinto uma grande incapacidade de os Geógrafos em Portugal conseguirem dar o seu contributo a uma escala alargada relativamente ao comportamento da doença nos diferentes contextos territoriais. Sinto que os Geógrafos portugueses perdem muito quando se trata de estudar a saúde e já senti isso no momento de desenvolver a minha dissertação, mas a COVID-19 veio reforçar esse aspeto. Como é possível avançarmos na investigação e dar o nosso contributo, quando não temos fácil acesso aos dados numa escala que o permita fazer com rigor? Por muito conhecimento de análise espacial que tenhamos, não conseguimos chegar a grandes conclusões, comparativamente a outros países como os EUA, ou a Itália, Grécia, ou até a vizinha Espanha.
Esta é uma questão que vou tentando desconstruir, com a consciência de que é uma questão sensível, mas também com a certeza que não seria impossível de resolver, uma vez que, neste momento, a vontade dos investigadores da área não é nada mais do que ajudar a encontrar eventuais medidas de adaptação, adequadas aos diferentes contextos territoriais, para esta e futuras pandemias que possam surgir num futuro próximo.
6 - Que lugar recomendaria para saída de campo em Portugal? Porquê?
Não sei se será este o tipo de saída de campo que me pedem para recomendar, mas existe uma viagem que estou neste momento a explorar e que acredito que para um Geógrafo seria uma oportunidade de conhecer contextos diversos. Porque não percorrer a Estrada Nacional 2, desde Chaves até Faro? Tenho ideia que seria uma oportunidade de conhecer diferentes contextos, quer a nível físico, quer a nível do território construído, das gentes, das especificidades culturais. Seria enriquecedor para qualquer Geógrafo, independentemente do ramo de atividade ou investigação em que se encontra neste momento.