Ser Geógrafo | Humberto Jorge Sarmento

Ser Geógrafoa | Humberto Jorge Borges Sarmento (Coordenador Municipal de Proteção Civil no Município de Tarouca)
Quando em 1996 concorremos à Universidade, quisemos ser Geógrafo. Talvez a ligação, desde tenra idade, aos Bombeiros nos indicasse o caminho que melhor se adequava à nossa curiosidade intelectual. Optando pela Licenciatura em Geografia - especialização em ensino da Universidade de Coimbra.
Mas depois de todo o conhecimento adquirido, ficaram-nos na memória um par de frases proferidas por dois dos nossos distintos Professores: “Não se agarrem apenas à Geografia!”; “A Universidade prepara os alunos para pensar, não para fazer!”. Pela primeira norteamos o nosso percurso profissional, até porque sendo a Geografia uma ciência de charneira, nos permitiu a todo o instante alcançar mais conhecimento noutras ciências. A segunda frase, pudemos constatá-la em contexto de trabalho, onde trocamos experiências com colegas vindo de Escolas muito mais direcionados para a tarefa, em detrimento de uma visão mais estratégica para a resolução de problemas.
Todavia, os conhecimentos adquiridos pelos Estudos Universitários foram de uma utilidade inequívoca quando passámos a desempenhar as funções de Comandante Municipal de Proteção Civil ou de 2º Comandante Distrital da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil em Viseu.
Numa visão holística, o background de competências Geográficas que adquirimos foi determinante para a funções exigentes de planeamento e operacionais desempenadas no âmbito da Proteção Civil. Destacaríamos, desde logo, a relevância de conhecer bem o território e a ação antrópica nele desenvolvida, quer no tempo, quer no espaço. Mais especificamente, as cadeiras de Geografia Humana permitiram-nos interpretar os fenómenos demográficos, a atividade económica, social, etc… e o seu impacto no território, bem como fazer extrapolações para intuir as condicionantes no futuro.
De utilidade inquestionável, foram as cadeiras da área da Física; a Climatologia, essencial para perceber os fenómenos meteorológicos que desencadeiam situações de crise; a Geologia e a Geomorfologia marcantes na interpretação, p.e., dos movimentos em massas; a Hidrologia Continental e Marinha, na análise de fenómenos de cheias e inundações, ou dos tipos de marés e suas consequências para a orla costeira. Importante, ainda, foi a cadeira de Riscos Naturais que permitiu consubstanciar todos os conhecimentos elencados anteriormente e corporizá-los objetivamente nas situações críticas que tive de gerir até hoje. Por último, os Sistemas de Informação Geográfica ajudaram no planeamento e nas análises micro ou macro em função da necessidade e, nos dias de hoje, como fatores críticos de sucesso na gestão de ocorrências!
Passados 24 anos após a Licenciatura, em nada nos arrependemos da decisão de querermos ser Geógrafo, percebemos ao longo do nosso percurso, que o mercado de trabalho abria muitas e diversas portas ao nosso conhecimento – e aproveitámo-las. Aconselharíamos os jovens mais temerários ou indecisos a enveredar por este curso, pois a sua utilidade e aplicabilidade no panorama atual é mais que necessária.