J. M. Pereira de Oliveira
J.M. Pereira de Oliveira, por José Alberto Rio Fernandes
Um mestre, que abria caminhos e fazia pontes, José Manuel Pereira de Oliveira marcou aqueles que com ele privaram pelo seu conhecimento amplo e denso, assim como pela forma como valorizava a liberdade de pensamento de cada um.
Dedicou-se intensamente à Universidade de Coimbra e à Geografia Portuguesa, tendo sido coordenador do primeiro Curso de Mestrado em Geografia a Norte de Lisboa e durante vários anos Presidente da Comissão Nacional de Geografia. Além disso, foi um elemento central no apoio ao Departamento de Geografia do Porto nos seus primeiros anos (assegurando as disciplinas de Geografia Humana, Geografia Urbana e Técnicas de Aplicação em Geografia Urbana), assim como, anos depois, na criação do curso de Geografia e Planeamento na Universidade do Minho.
A sua tese de doutoramento “O espaço urbano do Porto: condições naturais e desenvolvimento”, publicada nas vésperas do 25 de abril pelo Instituto de Alta Cultura, é uma referência na Geografia Urbana Portuguesa, ainda hoje, assim como no estudo da cidade onde viveu durante vários anos. Foi autor de muitos outros textos, num total de várias dezenas, que demonstram uma abertura permanente à atualização e aprofundamento científico. A sua abertura, contudo, nunca desvalorizava os clássicos, entre as quais sobressaia Orlando Ribeiro, apreciando a relação entre a Geografia e História, as Ciências Sociais e a Natureza, as dimensões teórica e empírica, além de cultivar o gosto pela saída de campo.
Tal como a Sul o fez Jorge Gaspar, Pereira de Oliveira desempenhou um papel muito importante no Norte e Centro de Portugal na promoção da formação de geógrafo na profissionalização em planeamento, em especial no domínio do urbanismo, abrindo espaço além da docência, ao mesmo tempo que promovia a investigação científica, através de várias iniciativas, entre as quais se destacarão o projeto Atlas das Cidades do Norte de Portugal e o Programa Alfa – Rede Atlantis.
Académico a tempo inteiro, já nos anos oitenta entendia que o seu desempenho profissional não se restringia às aulas e investigação científica. Além de ser Professor Catedrático da Universidade de Coimbra desde bastante cedo, onde nunca regateou esforços na defesa do prestígio da instituição e em especial do grupo de Geografia, teve, de facto, uma atividade muito rica “fora de muros”, destacando-se o exercício de funções no Ministério da Cultura, como delegado regional na Região Centro, e a de membro no Conselho da Europa. Além disso, manteve sempre uma forte ligação ao Porto, onde viveu e fez a sua tese, designadamente como consultor a Duarte Castel-Branco no Gabinete de Planeamento Urbanístico da Câmara Municipal para a realização do Plano Geral de Urbanização e o Plano Diretor Municipal da cidade.
A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na sua jubilação, celebrou cerimónia tocante de homenagem e o Departamento de Geografia atribuiu o seu nome a uma das salas no Convento de S. Jerónimo; em reconhecimento do seu notável papel, a Universidade do Porto atribuiu-lhe em 2001 o título de Doutor Honoris Causa e, poucos anos depois, recebeu do Município do Porto a medalha de honra, grau ouro.