História da APG
A FUNDAÇÃO DA APG
A ideia de criar uma associação para congregar os geógrafos do país remonta aos finais dos anos sessenta, tendo sido lançada por Ilídio do Amaral, Professor Catedrático do Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Contudo, a primeira iniciativa verdadeiramente consistente para tal, surgiu apenas após a Revolução de Abril, tendo como principal mobilizadora a geógrafa Maria Emília Sande Lemos, na altura colaboradora do Centro de Estudos Geográficos de Lisboa. Entre junho e agosto de 1974 é enviado um questionário a 165 professores do ensino básico e secundário com formação geográfica e a todos os restantes geógrafos identificados, questionando sobre o seu interesse em participarem numa reunião tendo em vista a criação e identificação de objetivos de uma associação de geógrafos. Apesar das múltiplas manifestações de apoio e interesse a iniciativa acabou por não vingar.
A ideia de criação de tal associação só viria a ser retomada dez anos mais tarde, em 1984, tendo a iniciativa surgido no quadro de uma conversa ocasional que tive com Jorge Gaspar, Professor Catedrático do Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com quem eu, então ainda jovem assistente, tinha o privilégio de partilhar o gabinete.
Ambos concordávamos que numa época em que o número de geógrafos crescera exponencialmente (mais um fruto da Revolução da Abril, que generalizou o direito e as possibilidades de acesso ao ensino superior), e se abriram múltiplas e diversificadas oportunidades de emprego para os licenciados em Geografia (do ensino, à administração pública e à consultoria em planeamento e desenvolvimento do território), era importante seguir os passos de outros profissionais, criando uma associação de carácter profissional tendo em vista “dar uma voz coletiva aos interesses e problemas dos geógrafos”, de modo a assegurar uma melhor defesa dos seus direitos e, simultaneamente, conseguir-lhes uma maior afirmação e visibilidade na Sociedade.
Lançado o desafio pelo professor Jorge Gaspar, que de imediato aceitei, a primeira questão que lhe coloquei foi a de saber a sua opinião sobre os primeiros contactos a estabelecer e a mobilizar. Surgiram logo três nomes de geógrafos, que também eram do meu conhecimento e convívio: Fernando Correia, um dois mais antigos funcionários da Comissão de Coordenação Regional de Lisboa e Vale do Tejo (hoje Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo); José Carlos Pinto, sócio fundador da empresa de consultoria em planeamento territorial COPLANO – Cooperativa de Estudos e Projectos, S.C.A.R.L.; e José António Santos, funcionário da DGARL - Direcção Geral da Acção Regional e Local.
Tomei a iniciativa de contactar aqueles três colegas, que também de imediato se entusiasmaram com a ideia e manifestaram interesse e disponibilidade para se levar a cabo a criação da desejada associação de geógrafos. Seguiram-se imensas noitadas de amena cavaqueira, por norma em casa do José António Santos (sita na Avenida Conselheiro Barjona de Freitas, em S. Domingos de Benfica), de discussão de todos os aspetos inerentes à criação de uma associação profissional (nome, logotipo, âmbito, objetivos, organização, universo e tipologia de sócios, projeto de estatutos,…). Mais tarde, por sugestão do José Carlos Pinto, juntar-se-ia ao grupo dinamizador a Virgínia Ferreira de Almeida, então funcionária da DGOT - Direcção-Geral do Ordenamento do Território. Ficou assim constituído o autodenominado Núcleo Dinamizador da Associação Portuguesa de Geógrafos.
O nome da Associação seria fixado e registado na conservatória de registos e notariado de Lisboa como Associação Portuguesa de Geógrafos (APG). O logotipo, eu próprio o desenhei (alguns anos mais tarde seria substituído pelo atual). Em termos de tipologia de sócios foram consideradas apenas duas categorias: efetivos e extraordinários, sendo que estes últimos poderiam ser correspondentes ou honorários. No que se refere à organização, conforme foi dito na Circular do Grupo Dinamizador de maio de 1987, avançou-se com a proposta de criação de Delegações Regionais e de Seções Especializadas.
Fig. 1- Primeiro Logotipo da APG
Tendo em vista a implementação das Secções Especializadas, avançou-se com a ideia de criar três, uma orientada para os professores do Ensino Básico e Secundário, outra para os professores do Ensino Superior, e uma para os restantes profissionais, no seio dos quais pontificavam sobretudo funcionários da administração pública (central, regional e local) e profissionais ligados a empresas de consultoria em planeamento do território.
A primeira a secção a ser pensada foi a ligada aos professores do ensino básico e secundário, tendo sido convidadas para a sua dinamização as professoras Odete de Sousa Martins e Conceição Coelho. Infelizmente, não foi possível levar a bom termo esta ideia, porque no decurso deste o processo estas colegas, sem aviso prévio, decidiram associar-se a um outro grupo que queria constituir uma associação autónoma dos professores de Geografia. Por iniciativa do Núcleo Dinamizador da APG, foram ainda encetadas algumas conversas com Maria Emília Sande Lemos e Maria Helena Gualberto, representantes daquele grupo de professores, no sentido de se criar apenas uma única e mais forte associação, tanto mais que o número de geógrafos no país era ainda limitado. As colegas ficaram irredutíveis nas suas posições, argumentando mesmo que a Associação Portuguesa de Geógrafos “seria algo controlado pelo pessoal da Universidade, mormente pelo professor Jorge Gaspar”. Nada mais falso, e em nome da verdade, até direi que nessa altura se havia alguém com poder para controlar alguma coisa relativamente à vida profissional dos professores do ensino básico e secundário, seria certamente quem tinha nas escolas a responsabilidade de orientação dos estágios. E, assim, abriu-se caminho à criação de duas associações profissionais de geógrafos, uma de caracter global e integrador (Associação Portuguesa de Geógrafos ) e, outra específica dos professores de Geografia do ensino básico e secundário (Associação de Professores de Geografia), as quais ainda hoje existem e que, também em abono da verdade, deve dizer-se que se têm desenvolvido e convergido nalgumas ideias e iniciativas comuns em defesa e promoção da Geografia.
A escritura notarial da Associação Portuguesa de Geógrafos teve lugar no cartório notarial de Almada, no dia 23 de julho de 1987. Para o efeito, o Núcleo Dinamizador convidou também para subscreverem a escritura (presencialmente ou por procuração) os seguintes geógrafos: Álvaro Corte Real, Bernardo Serpa Marques, Carlos Manuel Ferreira Sirgado, Diogo Abreu, Ilídio do Amaral, Jorge Gaspar, José Manuel Pereira Oliveira, Maria Eugénia Moreira, Raquel Soeiro de Brito e Teresa Barata Salgueiro. No seguimento, o Núcleo Dinamizador constitui-se como Comissão Instaladora ficando a Associação com sede na Avenida da Liberdade, nº 177, 4º esquerdo, Lisboa (que era também a sede da empresa COPLANO). Os Estatutos foram redigidos pelo advogado da COPLANO.
Figs. 2 e 3 – Estatutos e primeiro cartão de sócio da APG
Ao Professor Orlando Ribeiro, foi concedido o título de sócio honorário, sendo-lhe atribuído o número 1. Na ordenação seguinte sucederam-se, por ordem alfabética, os 5 membros da Comissão Instaladora, depois, os restantes membros que foram signatários da escritura de criação da associação e, finalmente, por ordem de inscrição os restantes sócios.
Nos sete meses da sua existência, a Comissão Instaladora, constituída por Fernando Correia, José António Santos, José Carlos Pinto (eleito pelo Núcleo como presidente), José Manuel Simões e Virgínia Ferreira de Almeida, levou a cabo várias tarefas e iniciativas entre as quais se destacam: i) Circulares de divulgação da Associação e captação de sócios, datando a primeira de maio de 1987; ii) Elaboração dos modelos de ficha e de cartão de sócio; iii) Conceção do boletim trimestral INFORGEO - INFORmação GEOgráfica, com três séries, a Série A dedicada a questões gerais do interesse dos geógrafos, a Série B dedicada à divulgação de Bibliografia; e a Série C dedicada à Legislação (mais tarde, em dezembro de 1990, estes boletins seriam substituídos pela revista INFORGEO); iv) preparação de um documento sobre a proposta ministerial de Reorganização dos Planos Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário; v) organização do primeiro colóquio da Associação, subordinado ao tema “O Enquadramento Profissional do Geógrafo”, que viria a ter lugar em Lisboa no Auditório do Padrão dos Descobrimentos, em 12 de março de 1998; vi) organização das primeiras eleições para os órgãos sociais da Associação, cuja Assembleia Eleitoral teve lugar imediatamente após o Colóquio.
Fig. 4 e 5- Cartaz do primeiro colóquio da APG e foto do evento
A Comissão Instaladora da Associação vigorou até 12 de março de 1988, quando tomaram posse os primeiros corpos sociais eleitos, tendo Ilídio do Amaral como Presidente da Mesa da Assembleia, Teresa Barata Salgueiro como Presidente da Direção e José António Santos como Presidente do Conselho Fiscal. O nome de Teresa Barata Salgueiro para presidir à Direção da APG surgiu por proposta minha numa reunião do Núcleo Dinamizador, ficando o José Carlos Pinto com a missão de lhe telefonar para a convidar, o que aconteceu ali mesmo no decurso da reunião.
Desde então, a Associação Portuguesa de Geógrafos, conseguiu mobilizar várias centenas de geógrafos com os mais variados tipos de ocupação, prosseguindo uma trajetória de consolidação, desenvolvimento e afirmação, quer no seio da comunidade geográfica, quer na própria Sociedade.
DATAS IMPORTANTES
- Escritura notarial da Associação Portuguesa de Geógrafos – 23/07/1987
- Publicação em DR Série III – 19/02/1988
FUNDADORES
Signatários da escritura notarial
- Álvaro Luís Saraiva Corte Real
- Bernardo Serpa Marques
- Carlos Manuel Ferreira Sirgado
- Diogo José Brochado de Abreu
- Fernando Augusto Correia
- Ilídio Melo Peres do Amaral
- Jorge Manuel Barbosa Gaspar
- José António dos Santos
- José Carlos Martins Pinto
- José Manuel Henriques Simões
- José Manuel Pereira de Oliveira
- Maria Eugénia Soares de Albergaria Moreira
- Maria Raquel Viegas Soeiro de Brito
- Maria Virgínia Guerreiro Ferreira de Almeida
- Teresa Barata Salgueiro
Núcleo Dinamizador da Associação Portuguesa de Geógrafos
- Fernando Augusto Correia
- José António dos Santos
- José Carlos Martins Pinto
- José Manuel Henriques Simões
- Maria Virgínia Guerreiro Ferreira de Almeida
PRESIDENTES
- José Carlos Pinto (Presidente da Comissão Instaladora)
- Teresa Barata Salgueiro (1988-1992)
- Maria Eugénia Albergaria (1992-1994)
- Maria Leal Monteiro (1994-1998)
- Maria José Roxo (1998-2000)
- António Fernandes (2000-2002)
- Jorge Malheiros (2002-2004)
- Mário Vale (2004-2008)
- Margarida Pereira (2008-2012)
- Rui Pedro Julião (2012-2016)
- José Rio Fernandes (2016-2020)
- António Bento Gonçalves (2020-2022)
- Pedro Chamusca (2022-2024)
Agradecimentos
Texto gentilmente cedido por José Manuel Simões.
Datas e listas finais resultantes de pesquisa elaborada por Clara Guedes, com apoio de Jorge Malheiros e Sérgio Claudino.
Anexos
Primeiro Congresso da Geografia Portuguesa
Primeiros Corpos Sociais eleitos | 12 de março de 1988
Relatório de Atividades de abril a dezembro de 1988
Convocatória da Assembleia Geral em fevereiro de 1989
Orçamento e Plano de Atividades 1989
Relatório de Atividades e Contas de 1989
Candidatura dos Órgãos Sociais de 1990-92
Boletim informativo e de inscrição na APG