#111 Cristina Mendes da Silva
Nome: Cristina Mendes da Silva
Naturalidade: S. Nicolau - Porto
Idade:58
Formação académica: Doutoramento em Geografia Humana
Ocupação Profissional: Educadora de Infância, Professora Universitária e Consultora
Outros:Investigação
1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
A Geógrafa foi, nas últimas duas décadas, uma pessoa com responsabilidades políticas a nível local, como vereadora e vice-presidente de uma câmara municipal e a nível nacional, como deputada na assembleia da Républica. E, neste momento é docente na escola pública, como educadora de infância, como atividade principal. Contudo, ainda com tempo e força, para prestar os seus serviços no ensino superior, como docente e a acompanhar, junto de uma consultora, projetos de desenvolvimento regional.
2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
No imediato, tenho a minha missão, em sala de JI, onde a Geografia é valorizada, todos os dias, no âmbito das aprendizagens da área do conhecimento do mundo e que me permitem partilhar conhecimentos, mas a aprender muito, pois o local e a sua relação com as crianças, preenche a minha alma, mas também faz todo o sentido quando a diversidade de culturas é uma oportunidade.
Como docente do ensino superior, tenho a responsabilidade de transmitir a importância do ensino da Geografia no ensino pré-escolar e 1º e 2º ciclos e de passar a mensagem às futuras educadoras de infância e professores(as), de que o conhecimento do mundo e o estudo do meio, são áreas de aprendizagem privilegiadas que servem de base à língua, à matemática, às ciências e às expressões e, como tal, são potenciais fontes de motivação e criatividade, na formação das crianças.
Quando me debruço num trabalho de colaboração, quer na elaboração de documento estratégicos de desenvolvimento económico e social, quer no desenvolvimento de projetos, candidaturas e de investigação, a geografia é a base de referência, pois está intrínseca ao território e ao público-alvo, para quem é construído o projeto ou desenvolvida a investigação!
3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Hoje, escolheria: identidade, território e mundo!
4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
É difícil, pois há tantos livros que me marcaram, mas hoje escolho, “As origens do Poder, da prosperidade e da pobreza: Porque Falham as Nações”, de Daron Acemoglu e James Robinson. Eu li a 15ª edição, do Círculo de Leitores.
Esta obra permite-nos compreender melhor a distribuição geográfica do fenómeno da pobreza, a nível mundial e ao longo da história, assim como o próprio desenvolvimento económico. Somos colocados perante a questão, se a riqueza ou a pobreza, dos territórios, é determinado pela geografia, pela cultura ou pelas lideranças! Nunca foi tão urgente percebermos a Geografia a nível mundial!
5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
Considero-me uma pessoa igual a tantas outras, mas que possivelmente vejo o mundo, a começar pelo meio que me rodeia, com um olhar de mais respeito, quer pela sua existência, preservação e beleza, mas também a sua correlação com as pessoas. Não consigo ver um mundo, onde não haja humanidade e onde os direitos humanos, não sejam respeitados. A cartografia, a topografia e todas as outras formas de referenciarmos o local e a própria terra, fazem, para mim, mais sentido se juntarmos as populações e as diferentes dimensões da vida humana.
6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Sim, principalmente como docente do ensino superior e na questão da colaboração na elaboração de planos estratégicos de desenvolvimento regional. Na escola, enquanto educadora de infância, essa realidade, não muito habitual, começa a ser valorizada.
Enquanto deputada da Assembleia da República, fui reconhecida pelo facto ser geógrafa, sobretudo na Comissão dos Assuntos Europeus, onde pude trabalhar nas propostas diretamente ligadas a todos os estados Membros que tinham o território como base e as pessoas como prioridade.
E, enquanto autarca, ainda doutoranda, senti que houve um reconhecimento, sobretudo quando tive a oportunidade de coordenar a “Agenda de Empregabilidade do Tâmega e Sousa”. Um projeto que envolveu um conjunto de micro – redes, com cerca de trezentos parceiros e destinada a uma população de onze concelhos, com cerca quatrocentas mil habitantes.
7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Aos jovens que vão iniciar os seus estudos superiores, eu diria que a geografia é uma oportunidade de abraçarem uma carreira que tende a ser mais necessária, sobretudo associada a competências digitais e de língua estrangeira.
Os desafios do presente e do futuro, num mundo em constante e rápida mudança, exigem que hajam equipas multissectoriais, seja em organismos públicos ou em empresas. Seja no planeamento de ações estratégicas, na avaliação de impacto, ou no desenho de cenários e de estudos projetivos, para auxiliar na tomada de decisão. Pelo que a formação superior de Geografia, abre uma série de caminhos que vão desde a educação, ao desenvolvimento económico e social, à investigação e, entre outros, ao planeamento estratégico. As perspetivas são boas, mas as responsabilidades são maiores, pois para agarrar estas oportunidades as/os jovens geógrafas(os) tem de se capacitar cada vez mais, com outras ferramentas complementares. Sobretudo devem ser resilientes, criativos e tornarem-se indispensáveis.
8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Julgo que não falar nas guerras, cujas imagens nos chegam, a todos os instantes do nosso dia a dia, pela comunicação social, é incontornável!
Quais os motivos que levam líderes políticos do séc. XXI a decidir pela guerra, causando morte a milhões de pessoas, a destruírem cidades completas, arrasando com os sonhos dos jovens, roubando a infância das crianças, muitas vezes órfãs e com feridas para a vida, quando é muito mais fácil governar pela paz?
A georreferenciação dos territórios em guerra, associada à sua história, cultura e ao tipo de governação, permite-nos tirar algumas conclusões, quer do ponto de vista sociológico, político, quer geográfico.
Contudo, a força da geopolítica, associada aos movimentos de interesse económico, lideram as populações que ficam impotentes perante tantos fenómenos, como a guerra, a pobreza, a seca, a má distribuição de bens, parque habitacional insuficiente/degradado que associados à falta de aposta pública numa educação, saúde, justiça e ação social justas e equitativas, destroem esses países e ameaçam destruir o mundo.
Quem lucra com a guerra? Ninguém! E, são tão poucos os que a provocam!
9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
Portugal é um país rico e diversificado, quer em paisagem, quer culturalmente. Mesmo dentro das cidades existem espaços, mais rurais que marcam pela diferença e que são uma boa oportunidade, para as crianças e para toda a população de contactar com a flora, fauna, gastronomia e tradições. Pelo que recomendo que visitem, com alguma frequência, os espaços mais próximos, para desfrutarem destas bolhas verdes que ajudam ao nosso equilíbrio físico e psíquico. De seguida vão visitando, de acordo com a disponibilidade e possibilidades, o interior do nosso país, de norte a sul e a Região Autónoma dos Açores e da Madeira. A não perder, a Região de Santana, na Madeira, a Ilha do Faial, Serra do Gerês, Serra da Estrela, o Alqueva e a Costa Vicentina. E, aquela aldeia ou vila que nos viu nascer, ou crescer, onde nos esperam, os familiares, amigos, os locais, os sabores e as memórias boas de uma infância bem vivida!