# 110 Carlos Goulão

Nome: Carlos Goulão
Naturalidade: Coimbra, Portugal
Idade: 62
Ocupação profissional: Chefe da Divisão de Inovação e Sistemas de Informação da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC,IP)

1- Quem é o geógrafo? Em que áreas trabalha e de que forma a geografia faz parte da sua vida?
Não me reconhecendo como um geógrafo na verdadeira acepção da palavra, a formação obtida com a licenciatura em Geografia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a par do mestrado em Sistemas e Tecnologias da Informação, obtido na Faculdade de Ciências e Tecnologias da mesma universidade, tem-me permitido fazer um percurso profissional onde tem sido possível conciliar a componente geográfica com a componente tecnológica e de sistemas de informação.
Iniciei a minha atividade profissional no Instituto Nacional de Estatística em 1990, como coordenador do Núcleo de Informática e Sistemas de Informação na Direção Regional do Centro do INE. Nessa altura, para além da atividade normal desenvolvida num núcleo de informática, entregaram-me diversos projetos em que a componente geográfica era fundamental. Posso destacar o acompanhamento e gestão na Região Centro da Base Geográfica de Referenciação de Informação. Trata-se de um Sistema de Informação Geográfica que cobre todo o território nacional, fundamental para a organização e execução dos Censos da População e da Habitação, o planeamento e execução de diversas operações estatísticas.  
Exerço a atividade de dirigente na  Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, IP, desde 2009. Atualmente sou Chefe de Divisão de Inovação e Sistemas de Informação da CCDRC, IP. Neste âmbito tenho coordenado diversos projetos com uma forte componente geográfica, destaco a implementação da Infraestrutura de Dados Espaciais da Região Centro- IDECENTRO. 

2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que que forma valorizam a geografia?
Felizmente são muitos os projetos para o futuro imediato. No âmbito da atividade que exerço na CCDRC, IP, estamos a introduzir novas tendências tecnológicas, designadamente na área da Inteligência Artificial, Machine Learning e Robotização de Processos. 
Estas tendências tecnológicas têm um impacto muito significativo no aumento da eficiência, eficácia e produtividade, na redução de custos operacionais, na melhoria da tomada de decisão, potenciando a inovação e a mudança nas organizações. 
Quando associadas a Sistemas de Informação Geográfica, estas tecnologias permitem análises espaciais avançadas, predições precisas ou a automação de tarefas complexas. Na CCDRC temos diversos projetos onde temos a possibilidade de aplicar esta conjugação tecnológica.

3- Se tivesse que definir geografia em 3 palavras , quais escolhia?
Espaço, Sociedade, Interação

4- Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomendaria?
Acabei de ler recentemente o livro "Nexus: uma breve história das redes de informação, da idade da pedra à inteligência artificial" de Yuval Noah Harari. Nesta obra o autor explora a evolução das redes de informação como estruturas que modelam o espaço, o poder e o tempo. O livro é uma excelente porta de entrada para pensar geograficamente a evolução das tecnologias da informação e as suas implicações na organização e no entendimento do mundo contemporâneo.

5- Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
A formação obtida em Geografia tem sido muito importante para a atividade exercida nos organismos da administração pública com os quais tenho colaborado. Por um lado, fornecendo uma capacidade de análise e de síntese essencial para organizar o meu pensamento. Por outro lado, trabalhando na CCDRC, uma organização que atua em áreas tão diversas como o Desenvolvimento Regional, o Ambiente, o Ordenamento do Território, a Agricultura, a Cultura ou os Fundos Comunitários, a geografia é uma ciência sempre presente e estratégica, seja na formulação e acompanhamento das políticas públicas e estratégias de desenvolvimento regional, como nas atividades mais operacionais da CCDRC.

6- Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Sim, tanto as organizações onde tenho trabalhado, como os parceiros com quem colaboro no dia-a-dia, reconhecem a minha formação geográfica. Por exemplo, tenho representado a CCDRC em fóruns de grande importância nacional, como o Conselho Coordenador de Cartografia, ou o Conselho de Orientação do Sistema Nacional de Informação Geográfica (COSNIG). Por vezes sou convidado a participar em seminários e outros eventos ligados à ciência geográfica na apresentação de artigos ou participando em comissões científicas ou em grupos de trabalho especializados.

7- O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em geografia?, sobre as perspectivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspectivas, responsabilidades e oportunidades?
Antes de mais uma licenciatura ensina a pensar e a organizar ideias. A licenciatura em geografia em particular prepara-nos para entender o mundo e as suas relações, entre pessoas, territórios, recursos e poderes, e a encontrar soluções para os desafios atuais nos mais diversos domínios, como por exemplo sobre as alterações climáticas ou as desigualdades sociais. 
Hoje em dia os SIG são uma ferramenta poderosa e essencial para o geógrafo e outros profissionais. Uma recomendação que daria a um jovem geógrafo é no sentido de aprofundar os conhecimentos e obter "skills" em áreas como a ciência dos dados, a programação de "scripting", a inteligência artificial e machine learning. Estas tendências tecnológicas, sendo fundamentais para construir os SIG do futuro, abrem uma janela de oportunidades para os futuros geógrafos.

8-Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspectiva e análise como geógrafo.
Um tema atual que deve merecer a nossa reflexão é a dos incêndios rurais e a reconstrução dos territórios. Efetivamente, nos últimos anos o território português e em particular a Região Centro têm sido afetados por eventos extremos adversos, entre os quais os incêndios, com grande perda de bens, destruição de ecossistemas e danos em povoações isoladas. A CCDRC tem participado na recuperação de danos materiais através de programas específicos destinados a apoiar a recuperação de habituações, ou através de compensações financeiras aos agricultores que viram as suas culturas afetadas.
Mais importante do que reconstruir é como reordenar um território vulnerável. A análise geográfica permite compreender como as dinâmicas territoriais agravam os incêndios. O abandono agrícola, o despovoamento do interior, a ausência de mosaicos agroflorestais, a presença de monoculturas sem gestão adequada, são fatores determinantes para a ocorrência fácil de incêndios. 
A geografia e as suas ferramentas tecnológicas devem servir para promover uma reconstrução inteligente dos territórios afetados e mais susceptíveis a incêndios. O reordenamento do território deve passar por um melhor planeamento territorial estratégico, pela promoção de atividades económicas sustentáveis, por projetos comunitários de gestão florestal, pela reorganização da ocupação do solo com base em análise de risco, biodiversidade e função social.

9- Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal Porquê?
Recomendaria o Maciço Calcário de Sicó. Como sabemos, o Maciço Calcário de Sicó é uma unidade geomorfológica e geológica situada no centro de Portugal, entre os concelhos de Pombal, Condeixa-a-Nova, Penela, Ansião e Alvaiázere. É parte integrante do Sistema Montejunto-Estrela e caracteriza-se por ser uma formação de relevo calcário, com paisagens cársicas típicas.
Para além da variedade de formas cársicas que caracterizam a paisagem, como dolinas, lapiás, algares, grutas e vales secos, esta região acomoda uma biodiversidade muito importante, sendo refúgio de especies raras e habitats prioritários no contexto da Rede Natura 2000. Não menos importante, é o património cultural e arqueológico que encerra esta área, destacando o património rural, com o muros de pedra, currais, fornos, moinhos, e antigas rotas de transumância.
Recordo com saudade as saídas de campo a Sicó, no âmbito da licenciatura em Geografia, com colegas e professores da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.