DIA INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS – 20 DE JUNHO | Fátima Velez de Castro

DIA INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS – 20 DE JUNHO | Fátima Velez de Castro (Universidade de Coimbra)

Passo este Dia Internacional dos Refugiados a relembrar as imagens vistas nos últimos dias, sobre colunas de carros e populações em fuga de Teerão. Milhares de iranianos estão a deixar as suas casas e os seus bens, fugindo da capital com as suas famílias, para encontrar refúgio num local relativamente mais seguro. A escalada de violência no Irão é mais uma de muitos contextos de instabilidade política e social, que tem levado, através do(s) tempo(s) e do(s) espaço(s) à deslocação forçada de pessoas dos seus locais de vivência diárias.

Chamamos “refugiados” de forma imprecisa: este termo refere-se a um estatuto do âmbito do ACNUR (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), que é atribuído a uma pequena parte das gentes em fuga. O termo correto e geral é o de “deslocado”, o qual pode manter-se neste regime ou optar por solicitar um visto específico a um país estrangeiro, como asilado, por exemplo. Contudo, o termo generalizado e usado pela comunicação social e no dia-a-dia é o de “refugiado”.

Este ano fiz um exercício muito apreciado pelos estudantes da unidade curricular de “Migrações e Multiculturalidade na Europa”: pedi para, em grupo, imaginarem que tinham de fugir da cidade de Coimbra, em 24 horas, por motivo de ataque bélico, e que só podiam levar uma mochila com objetos e bens que considerassem essenciais para a fuga. Depois de feitas as listas de “coisas a levar”, comparámos com o conteúdo de uma mochila pertencente a um deslocado real – Hashem – cuja história está contada no livro “A nova odisseia”, de Patrick Kingsley (https://www.researchgate.net/publication/329980288_Kingsley_Patrick_A_nova_odisseia_A_historia_da_crise_europeia_dos_refugiados). Na “mochila dos estudantes”, além da quantidade desproporcionada de objetos para caber num saco de tal tamanho (muita roupa, mantas e produtos de higiene!), concluiu-se que os mesmos se coadunavam com um contexto de campismo ou de lazer. Porém, a mochila de Hashem era extremamente frugal, levando documentos para provar que corria perigo de vida (e requerer o estatuto de refugiado), assim como comprimidos para o enjoo, protetor solar e boné, por saber que o percurso da Síria para a Europa seria muito duro. Enfim, as imagens da televisão chocam-nos, mas não nos dão a verdadeira dimensão da experiência dura e traumática, do que é ser deslocado/refugiado e fazer uma viagem incrivelmente dura e plena de riscos.

Aproveito para deixar estas sugestões de livros e filmes, onde poderão, através do cinema e da literatura, partir da ficção para a realidade, ajudando a refletir sobre esta problemática.