Dia Internacional do Solo | Carlos Guerra
Dia Internacional do Solo - 5 de dezembro | Carlos Guerra, Departamento de Geografia e Turismo da Universidade de Coimbra
O Solo como pilar dos ecossistemas e da Humanidade|
O solo, muitas vezes ignorado sob os nossos pés, cumpre um papel central para os ecossistemas, para a sociedade e na economia. Para o geógrafo, o solo não é apenas matéria inerte ou a camada superficial da Terra, mas um componente vivo, dinâmico e complexo, cuja saúde influencia diretamente a nossa qualidade de vida e a sustentabilidade do planeta. Do ponto de vista ecológico, o solo é o cenário onde se desenrola uma intrincada rede de interações. Nele, as plantas encontram suporte e nutrientes, enquanto a água se infiltra e é armazenada, garantindo o equilíbrio do ciclo hidrológico e protegendo os lençóis freáticos. É também o lar de trilhões de micro-organismos e animais que transformam matéria orgânica em nutrientes essenciais e ajudam a fixar carbono, desempenhando um papel crucial no combate às alterações climáticas – uma função vital num mundo onde o solo armazena mais carbono do que a vegetação e a atmosfera juntas.
Para a sociedade, o solo é sinónimo de segurança e bem-estar. Um exemplo claro é a sua importância para a agricultura, que depende da fertilidade do solo para alimentar uma população global crescente. Porém, práticas como o uso excessivo de fertilizantes químicos, a monocultura e a desflorestação esgotam os recursos do solo, enfraquecendo a sua capacidade de regeneração. Paralelamente, nas áreas urbanas, o crescimento das cidades sela grandes extensões de solo potencialmente fértil sob camadas de asfalto e cimento, intensificando problemas como inundações e perdas irreparáveis de serviços de ecossistema.
Contrariamente ao que tem acontecido nas últimas décadas, hoje existe uma atenção redobrada sobre o solo. Exemplos disso são o estabelecimento da Parceria para o Solo, que tem como objetivo desenvolver ações que visem a melhoria dos sistemas e políticas de proteção do solo, ou a Missão Solo da Comissão Europeia que já investiu nos últimos 3 anos mais dinheiro em investigação relacionada com o solo que todo o anterior programa H2020. Este foco no solo permitiu que uma vez mais, depois da tentativa falhada de 2006, estejamos a discutir no Parlamento Europeu uma Lei Europeia de Solos. Esta Lei, se aprovada, irá permitir desenhar sistemas de monitorização do solo à escala nacional que respondam às necessidades do nosso país e dos que dele dependem. No futuro podemos ter sistemas de informação sobre pragas do solo assim como uma real estimativa das externalidades positivas que dele emergem e que podem beneficiar quem efetivamente o protege e a conserva.
Neste dia internacional do solo é importante refletir que o solo não é apenas recurso, é herança viva, um tesouro finito que exige respeito e cuidado para garantir o futuro das gerações vindouras. Como geógrafos temos de manter a nossa perspectiva territorial e contribuir para o desenho de políticas públicas que permitam não só reconhecer a sua importância mas também identificar soluções territoriais para a sua monitorização e conservação.