Dia Internacional da Juventude | Sérgio Claudino

Dia Internacional da Juventude | Sérgio Claudino (IGOT)
Interrogo-me sobre se ontem terei sido correto. Fui à escola de uma periferia pobre de uma cidade. Grupos de alunos do 8º ano apresentaram os seus trabalhos sobre os problemas da escola e do bairro, em cartazes ilustrados por fotografias realizadas pelos mesmos alunos, bem como as propostas de solução para os mesmos problemas. Geografia pura. Os problemas são muitos e graves. A sessão correu muito bem e é a primeira turma da escola que se abalançou neste desafio. No final, foram muitos os elogios dos adultos (também meus) aos trabalhos destes jovens e ao seu professor de Geografia.
O professor estava, naturalmente, muito contente. Virou-se para mim e perguntou-me se eu (que viera de longe, de fora da cidade) estava à espera de encontrar trabalhos tão bem feitos. Entre conversas paralelas, evitei responder. Mas o professor insistiu: eu estava à espera de encontrar trabalhos como aqueles acabados de apresentar? Já não consegui evitar responder. Fui sincero: não fiquei assim tão admirado. Ainda o ano passado, noutra escola da mesma cidade, encontrei trabalhos semelhantes, sobre os problemas do bairro e propostas para os resolver. Mas, claro, estava tudo muito bem e estavam todos de parabéns.
Eu fiz bem em dizer o que disse? Deveria ter dito que sim, que não esperava encontrar aqueles trabalhos dos alunos, mesmo não sendo totalmente verdade?
Na realidade, ano após ano, sou surpreendido pelo que os jovens portugueses e de outros países (do Brasil, neste caso) constroem, pelo seu sentido crítico, pela sua criatividade, pelo seu empenho, naturalmente apoiados pelos professores.
Era eu uma criança e, numa aldeia do Cadaval, ajudava, generosamente, os trabalhos do lagar dos meus vizinhos, durante as vindimas. Ouvia, ofendido (ainda não o esqueci!), um desses vizinhos afirmar, repetidamente, que uma criança só fazia alguma coisa bem feita por engano (afirmação corrente na época).
Neste Dia Mundial da Juventude (12 de agosto), a partir da minha experiência profissional e pessoal de anos e anos, quero criticar as crenças de que os jovens não são capazes de ter um olhar crítico sobre os territórios que habitam. Têm. Quando o envelhecimento marca cada vez mais a as nossas sociedades e a sociedade portuguesa, em particular, ficamos todos muito mais pobres quando não estimulamos, acreditamos, valorizamos a contribuição dos mais jovens na sociedade.
É esta a mensagem que vos quero deixar neste Dia Internacional da Juventude de 2024. E felicitar todos os jovens.