# 93 Diogo Pinto
Nome: Diogo Miguel Pinto
Naturalidade: Baião, Porto
Idade: 28 anos
Formação académica: Licenciado em Geografia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Mestre em Riscos, Cidades e Ordenamento do Território. Pós-graduado em Sistemas de Informação Geográfica e Ordenamento do Território (FLUP) e Pós-Graduado em Direito de Proteção Civil pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Auditor Jovem da Defesa Nacional pelo Instituto de Defesa Nacional.
Ocupação Profissional: Atualmente, aluno de Doutoramento em Geografia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Outros:
1 - Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
O meu percurso profissional, como geógrafo, inicia-se no Município de Peso da Régua e, posteriormente, no setor privado, desempenhando funções de técnico de geografia na empresa Mobilidade e Planeamento do Território, Lda. Ambas as experiências representaram enormes contributos na minha formação e profissionalização, reforçando competências em planeamento, gestão de projetos, SIG, mas também aperfeiçoando o trabalho em equipa com colegas de distintas áreas do saber. Mais recentemente, fui investigador no projeto AVODIS financiado pela FCT, o que me proporcionou aprofundar conhecimentos na área da geografia e dos incêndios rurais, desenvolvendo uma melhor proficiência na investigação científica, análise de dados, redação de relatórios e publicações. Atualmente, sou investigador colaborador na unidade de I&D - Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT). Colaborei também com a Agência de Avaliação e Acreditação de Ensino Superior (A3ES) e, ainda, no âmbito de um estágio curricular com a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF). No meu percurso académico, evidencio o meu interesse pelos espaços rurais e pelas várias problemáticas e desafios que os mesmos enfrentam, seja do ponto de vista dos riscos e dos seus impactos, até às suas potencialidades com base na inovação e no turismo.
2 - Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
Tenho trabalhado de perto com várias entidades e comunidades no âmbito dos diversos projetos que estou a desenvolver, juntamente com outros colegas. Esta colaboração é uma maneira muito eficaz de divulgar o nosso trabalho como geógrafos e destacar a importância da ciência geográfica. Nos próximos anos, estarei dedicado ao desenvolvimento do meu plano de trabalho no âmbito do doutoramento, com a esperança de poder contribuir positivamente para as estratégias e políticas relacionadas com os espaços rurais.
3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Vão me perdoar a ousadia, mas em vez de três palavras, apenas uma frase que costumo proferir “A Geografia, na sua essência, serve para melhorar a vida das pessoas”.
4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Há uma série de livros que poderia enumerar, desde bibliografia obrigatória na licenciatura/mestrado até às obras que lemos por gosto e/ou curiosidade. Numa das minhas incursões a Trás-os-Montes, durante a elaboração da minha dissertação de mestrado, o Dr. Nelson Rebanda falou-me do livro do geógrafo Virgílio Taborda, intitulado 'O Alto de Trás-os Montes: estudo geográfico'. O livro é a publicação da tese de Doutoramento em Ciências Geográficas de Virgílio Taborda em 1932. “Uma Tese Notável”, refere Orlando Ribeiro no seu prefácio à 2.ª edição de 'Alto Trás-os-Montes' em 1987, mencionando ainda que, não fosse a sua morte prematura, Virgílio Taborda seria “um dos mais vigorosos espíritos da geografia portuguesa”. Este é um livro de um geógrafo humano, inspirado em autores da escola francesa, com um intenso e extenso trabalho de campo (9 meses), percorrendo uma região inteira há quase um século. É um excelente trabalho clássico de geografia regional, com uma recolha de dados profunda para a época, análises descritivas, análises de redes e de fluxos minuciosas que permitem uma caracterização científica profunda de Trás-os-Montes. Acompanhado também de uma boa recolha fotográfica, é, segundo Orlando Ribeiro, “o melhor exemplo de um estudo de região em Portugal”. É uma obra essencial para quem estuda Trás-os-Montes, mas também para qualquer geógrafo curioso, devido à sua forte componente do trabalho de campo como método indispensável e intemporal à ciência geográfica. Virgílio Taborda procurou estudar os fenómenos e as várias dinâmicas que se desencadearam na região, com três ingredientes essenciais: a curiosidade, a capacidade de observação e a qualidade científica. Por ser um trabalho pioneiro, inovador e de grande qualidade, não obteve o reconhecimento merecido na academia do seu tempo. Como referiu Orlando Ribeiro, a habilidade dos discípulos “é poucas vezes perdoada”, e os críticos da época representaram a “mediocridade receosa perante o talento”. Por ser um trabalho atual na sua essência e até no seu contexto, recomendo vivamente a sua atenta leitura.
5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia a-dia, ser geógrafo?
Estamos habituados na geografia a afirmar que a “nossa” ciência é agregadora e multifacetada, uma vez que procura construir pontes com várias áreas do pensamento, essenciais para a perceção e compreensão dos territórios em toda a sua globalidade e complexidade. Ser Geógrafo é ser atento, é compreender o mundo que nos rodeia e procurar perceber como os processos se desenvolvem e se relacionam no espaço. É possuir uma curiosidade característica e constante, na procura pelas soluções para os problemas e ineficiências que identificamos, mas sempre com base numa visão integrada e holística. Atualmente, existe o risco de confundirmos as ferramentas ao dispor do geógrafo com a finalidade da própria geografia. Não me identifico com uma geografia que não exija validação no local, por mais avançadas e válidas que sejam as opções tecnológicas disponíveis. Além disso, a geografia tem um dever social de interagir com as comunidades, que, no final das contas, devem ser as principais beneficiárias dos nossos contributos.
6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia?
De que forma e como se expressa esse reconhecimento? Com base nas características enumeradas anteriormente, a versatilidade dos geógrafos e da geografia permite um elevado reconhecimento numa série de setores da sociedade. A Geografia é altamente valorizada pela capacidade de propor soluções e recomendações com base em evidências científicas, e na forma como conseguimos influenciar as políticas públicas, tornando-as mais realistas e adaptadas aos territórios, o que se traduz numa melhor aplicabilidade e eficácia.
7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro?
E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades? Haveria, certamente, muito a dizer, mas o mais importante é fortalecer o currículo ao longo do período formativo, obviamente sem descurar as atividades características do mundo acadêmico! No entanto, num mundo cada vez mais competitivo, parece-me ser um bom conselho adquirir uma relevante experiência ao longo do percurso na Universidade, incluindo a frequência de formações extracurriculares, a realização de estágios e, se possível, o envolvimento em projetos de investigação científica. Estes são alguns passos que podem facilitar a escolha de uma área de especialização dentro da ciência geográfica, que já oferece por si só uma vasta e diversificada gama de opções profissionais. Por último, é essencial estabelecer um propósito, que deve ser a resolução dos problemas que identificamos ao longo da realização dos nossos trabalhos, sempre numa lógica de proximidade ao nosso objeto de estudo/trabalho.
8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Infelizmente em Portugal, assim como noutros países, os incêndios rurais são sempre um acontecimento atual. Como tal, não poderia deixar de abordar esta problemática tão preeminente ao espaço rural português. Como geógrafo, este é um assunto que me preocupa, mas também me motiva a contribuir para a sua mitigação. Uma das questões cruciais que merece uma maior e elevada atenção é a atual conjuntura do mundo rural português, fruto de profundas transformações na estrutura da propriedade rústica e das marcantes alterações socioeconómicas que ocorreram ao longo de mais de meio século. Não esquecendo, também, a fragmentação da propriedade, que torna especialmente difícil a implementação de políticas eficazes de gestão florestal e de prevenção de incêndios. Soma se a este cardápio a evidente ausência de cadastro em grande parte do país, o que agrava ainda mais o problema, dificultando a identificação dos proprietários e a promoção de ações efetivas. Para abordar de forma substancial este problema, é imperativo que se olhe para a propriedade rústica e para os espaços rurais como fontes de valor e riqueza. Uma possível solução seria a implementação de sistemas de pagamento por serviços ecossistémicos e a promoção de créditos de carbono para os proprietários que adotem práticas de gestão sustentável. Enquanto os proprietários não conseguirem obter das suas propriedades um rendimento efetivo e real, parece-me claro que também não farão a sua devida gestão. Este é um dos possíveis caminhos para uma estratégia de mitigação do impacto dos incêndios rurais num contexto de mudanças climáticas.
9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
Obviamente, a Região Demarcada do Douro, em primeiro lugar, por ser um dos meus territórios por excelência, e em segundo, é um bom lugar para refletir sobre a influência humana na construção e alteração da paisagem. Soma-se, obviamente, a beleza da região e as características distintivas do seu património social, cultural, histórico, paisagístico e natural. Possui, numa parte do seu território, a classificação da UNESCO como Património Mundial desde 2001, o que fortaleceu a sua capacidade de atração turística, a que se somam os vários prémios internacionais que acumula. Encontramos, também, nesta região, inúmeros casos inovadores e de sucesso que promovem um considerável contributo para um desenvolvimento sustentável destes territórios. E, por falar em sustentabilidade, nada melhor do que percorrer o Douro de comboio, naquela que é uma das mais bonitas linhas ferroviárias do mundo, a linha do Douro, elemento imprescindível no desenvolvimento e coesão territorial da região! E, por fim, como recorda Miguel Torga, o Douro é 'Um poema geológico. A beleza absoluta'."