# 112 Ricardo José Tomé

Nome: Ricardo José da Conceição Tomé
Naturalidade: Loulé
Idade: 52
Formação académica: Licenciado em Geografia e Planeamento Regional, variante Geografia Física (FL/UL) e MsC em Ordenamento do Território (FCT/UNL).
Ocupação Profissional: Geógrafo, sócio-gerente e Diretor Executivo da empresa RT Geo - Planeamento e Ordenamento do Território, Lda. 
Outros:

1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
Sou casado e pai de uma menina linda, e com um percurso ligado à investigação e na função pública, tendo aí concluído funções como Diretor de Departamento de Ordenamento e Urbanismo, e fundador da empresa de consultoria, estudos e projetos, RT Geo – Planeamento e Ordenamento do Território, da que sou sócio-gerente e Diretor Executivo. Vivo a Geografia de forma intensa e apaixonada, da qual me é difícil alhear não fosse o território – omnipresente - o seu objeto e, ser nesse espaço onde a nossa vida, nas suas diversas dimensões, se encerra. Como dizia o Prof Gaspar numas breves notas científicas do passado, mas que me marcaram profundamente, ser “Geográfico é inescapável”, e ter consciência ativa disso mesmo, coloca-nos numa posição de “charneira” para compreender que o território, em diversas escalas, é o produto da inter-relação de diversos fenómenos que aí se entrecruzam e que lhe conferem o seu cunho específico. Isso é apaixonante, pois, como nenhuma outra disciplina o faz, permite-nos observar e agir sobre este de forma mais consciente, integrada e holística. E é mesmo assim, razão pela qual em contexto profissional, com colegas, insisto nesta mensagem. E faço-o diariamente, no contexto da empresa, nas diversas áreas em que intervimos - do ordenamento do território e desenvolvimento e urbanismo, em tudo o que a estas diz respeito, ao ambiente, clima e “riscos”.

2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
No essencial, pretendo cimentar o papel da RT Geo enquanto empresa, e uma escola para o ordenamento do território e desenvolvimento, urbanismo, ambiente, clima e “riscos”, no contexto nacional, e, desde logo, pelo nome, vincar o papel da Geografia e do Geógrafo nesses domínios de ação aplicada que nos inspiram diariamente. Nesse âmbito, com os projetos que temos em mente, o ano de 2026 vai ser frutuoso para potenciar o nosso trabalho enquanto empresa e, sempre, da Geografia pois será a abordagem desta que prevalecerá.  

3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Certamente uma disciplina científica “integradora” (dos fenómenos que se distribuem de forma imbricada no território), “sistémica” (pela abordagem intrínseca de observar as relações de interdependência e inter-relação dos diversos fenómenos espaciais) e de “charneira” (no quadro das ciências/das disciplinas que de algum modo agem sobre o território). 
Da nossa experiência, tanto no setor público, de que já estou afastado após concluir a minha carreira enquanto Diretor de Departamento de Ordenamento e Urbanismo, e com várias dezenas de colaboradores sob a minha dependência e com múltiplas equipas a interagir, como na gestão da empresa no setor privado, não há outra disciplina que disponha das ferramentas e da abordagem que permita observar e definir estratégias de ação sobre o território (os diversos fenómenos que aí se interrelacionam) como a Geografia, não fosse esta a “Geografia”. 

4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Os livros são a melhor forma que temos para beber conhecimento e experiências de outras pessoas e são para mim uma companhia permanente. São muitos os que gostaria de enunciar, mas, face à questão, não hesito em nomear o livro de Henrry David Thoreau, “Walden ou a vida nos bosques” - simplesmente genial pela sensibilidade pioneira de observar a natureza e procurar a sustentabilidade da ação do homem sobre esta, e por que é, também, um hino à vida. Além deste livro, cuja leitura recomendo vivamente, não deixo igualmente de sugerir o livro “A invenção da natureza”, de Andrea Wulf, sobre Alexander Von Humboldt, que sem ser um Geógrafo de base, devemos certamente a ele muitos dos princípios da nossa abordagem integradora e sistémica. Recomendo vivamente a leitura para conhecermos melhor o percurso e os precursores da ciência moderna.

5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
A Geografia carece de ser enaltecida e de ganhar centralidade no contexto das ciências pois que, pelo objeto e abordagem, é única, e só verdadeiramente nos apercebemos do seu potencial, e do que nos distingue, quanto mais nos cruzamos e trabalhamos, lado a lado, com colegas de outras áreas. Não desvalorizo, de modo algum, essas disciplinas, todas válidas e de saber apaixonante. Contudo, não precisamos de muito para perceber da dimensão territorial de cada projeto e como essa liga as partes envolvidas, mas que é ignorada, talvez pela sua omnipresença. Cabe ao Geógrafo evidenciá-la e enriquecer o projeto com a sua abordagem. Tem sido assim comigo, em mais de 25 anos no ativo enquanto geógrafo e coordenador de muitas equipas e projetos. Ser Geógrafo é, realmente, estar, sentir e observar o território de forma ativa e permanente, através de uma abordagem integrada, holística e sistémica, sobre os fenómenos que se inter-relacionam no espaço e que lhe dão identidade e ao mesmo tempo lhe conferem potencialidades e fragilidades, e orientar uma ação sobre o mesmo mais rigorosa e responsável. É assim que me posiciono no meu dia-a-dia.

6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Devo reconhecer que ainda há um grande desconhecimento sobre o que é um Geógrafo, qual o seu objeto e verdadeiro âmbito aplicado e o nosso papel na sociedade. Daí que, ainda acontece, num primeiro contacto, instalar-se a confusão sobre se somos Engenheiros ou Arquitetos, ao que no passado ainda se seguia uma breve clarificação sobre a nossa essência, marcando a posição do ser Geógrafo. Hoje, dou menos relevância ao assunto, mas aqui e ali vou manifestando a visão e a abordagem da Geografia. Com quem nos relacionamos, não parece existir a confusão sobre o nosso papel, colocando-nos muitas vezes como o ator de charneira sempre que o assunto é claramente “território”. Mas, temos ainda que fazer valer a nossa essência sem hesitação e, às vezes, com audácia, mesmo correndo riscos em ser mal interpretados. O que não pode acontecer é sermos aquilo que não somos, nem como pessoas nem como profissionais.

7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Diria que a Geografia é uma disciplina fantástica, que nos concede uma visão e uma postura sobre o território única pela capacidade de o percebermos e apreendermos e de orientar a ação humana sobre o mesmo. Acrescentaria que pelo seu conhecimento integrador, “especialista em território” através de uma abordagem multiescalar e multidimensional, a sua abordagem é fundamental para o futuro, sobretudo no momento de grandes desafios com que nos debatemos enquanto humanidade – dos físicos e ambientais (incluindo climáticos), aos socioeconómicos e demográficos e de forte mobilidade, etc., Não deixaria, contudo, de referir que a Geografia está longe de ter a centralidade que mereceria no contexto das ciências e das instituições empregadoras, mas que esse caminho só os Geógrafos o podem fazer, sendo audazes, não tendo medo de se posicionar e reclamar para si o que é seu, com responsabilidade. Não poderia igualmente deixar de alertar sobre a necessidade do Geógrafo em formação refletir e compreender muito bem o conceito do que é a Geografia (a ciência que estuda a distribuição dos fenómenos no espaço nas suas inter-relações) ou, de contrário, nunca terá segurança sobre o alcance do ser Geógrafo. Curioso, que questiono recorrentemente jovens licenciados e estagiários sobre a definição da Geografia, e não raras as vezes sou confrontado com uma multiplicidade de respostas que vagueiam entre o “estudo da terra” a outras que mostram pouca assertividade no conhecimento. Efetivamente a maioria nem conhece o conceito de Geografia nem, por conseguinte, o compreendem, o que contribui para os deixar relativamente perdidos, sem saber ao certo o que sabem e podem fazer. Não poderia igualmente de incentivar o Geógrafo em formação a contactar com colegas no ativo e em fazer estágios ou visitas de observação profissional a empresas de ou com Geógrafos por forma a sanar lacunas que o ensino universitário encerra, parecendo, por vezes, um pouco alheado do mundo do trabalho e do papel real e aplicado do Geógrafo e da aplicação da Geografia. Diria, por fim, sem prejuízo de muitos outros assuntos que poderão ser explorados, que não tenham receio de ser Geógrafo, pois que se este não fizer o seu trabalho, outras disciplinas vão paulatinamente, sem estarem munidos dos conceitos e das ferramentas e da linguagem, abarcando o seu “espaço.”, o seu papel. O território, onde as nossas vidas e a sociedade se encerram, é omnipresente e é fundamental saber compreendê-lo e apreendê-lo, para melhor agir sobre o mesmo. E é esse o papel, diria, forçando a gíria técnica, na “especialidade”, do Geógrafo.

8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
A mudança acelerada que o mundo está a sofrer, parece a única constante ao momento e são tantos os temas merecedores de atenção, incluindo pelo Geógrafo, que parece redutor destacar algum. Mas não posso deixar de destacar as mudanças climáticas ou, associado a estas, a erosão costeira e o aumento do nível do mar que, em limite, pode alterar toda a nossa – refiro-me a Portugal e ao Algarve em Particular, onde estamos sediados - dinâmica socioeconómica e demográfica a prazo se as previsões estiverem corretas. No limite é um assunto de ordenamento do território e que, como a Geografia, é-lhe conferida pouca centralidade em termos de política nacional. O papel do Geógrafo é fundamental neste quadro, pela sua capacidade integradora da multiplicidade de fenómenos que aqui se interligam – das alterações ao uso do solo que isso implica às medidas de adaptação, passando pela definição de uma estratégia de desenvolvimento com foco e audaz com vista a garantir a sustentabilidade do desenvolvimento.

9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
O país é fantástico e fortemente heterogéneo, tanto do ponto de vista “físico” como “socioeconómico” e “urbano”. Por isso, há muito por onde colocar os nossos alunos. Diria que o mais importante é aprender de uma forma aplicada, com os colegas que intervém de algum modo no território, na administração pública ou em empresas como a RT Geo, todos com espaços de e para aprendizagem nas mais diversas áreas sobre as quais um Geógrafo se pode dedicar (ordenamento, ambiente, urbanismo, dinâmicas socioeconómicas e de mobilidade, riscos naturais, litoral, etc,), do norte ao sul do país e onde, além de matéria técnica a abordar, há sempre lugar ao aprofundamento científico.