# 108 Jorge Brandão

Nome: Jorge Brandão
Naturalidade: Coimbra
Idade: 60 anos
Formação académica: Mestrado em Geografia Regional pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Ocupação Profissional: Vogal da Comissão Diretiva do Programa Regional Centro 2030

1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
Desde a conclusão da licenciatura em Geografia, na Universidade de Coimbra, que desenvolvo atividade profissional na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro. Esta entidade permitiu-me trabalhar ao longo dos anos com muitos colegas geógrafos, com quem aprendi muito, mas também com colegas com outras formações académicas, que partilham o interesse e a experiência na operacionalização de estratégias e processos de desenvolvimento territorial, em particular associadas à política de coesão europeia.

2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
As funções que desempenho, relacionadas com a gestão de fundos europeus, no contexto de um programa regional, permite desenhar instrumentos de financiamento à medida de desafios e necessidades de territórios específicos. O modelo de aplicação dos fundos europeus assenta essencialmente em instrumentos muito segmentados, que procuram dar resposta a objetivos muito concretos (numa lógica de vinculação direta entre o financiamento e os resultados esperados). Contudo, a maior parte dos problemas que se pretendem enfrentar são de natureza complexa, pelo que não têm uma solução única nem podem ser reduzidos a um instrumento de financiamento único.
Por isso as abordagens territoriais têm vindo a ganhar espaço nos últimos ciclos de financiamento europeu. O território é um excelente ponto de partida para enfrentar muitos dos desafios da sociedade atual. Os desafios demográfico, climático, digital ou mesmo a competitividade das economias, podem ser melhor enfrentados quando abordados do ponto de vista do território. Porque são muitos os fatores que interferem com esses desafios. Fatores naturais, como o clima, a orografia ou o coberto vegetal, fatores demográficos e sociais, como a dinâmica populacional, o envelhecimento, a perda de população ativa, as migrações, as competências e qualificações das populações e dos jovens, os fatores económicos, como os recursos locais, as estruturas produtivas e os ecossistemas de inovação, ou fatores organizacionais, como os modelos de governação regional e local. E a Geografia tem muito a oferecer para a compreensão destas realidades complexas.

3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Território, sociedade e redes.

4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Duas re/leituras recentes que, sendo livros muito distantes entre si, têm a uni-los a atenção aos tempos longos da história para compreendermos melhor a nossa realidade enquanto país e sociedade: Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, de Orlando Ribeiro, e As causas do atraso português, de Nuno Palma.

5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
A minha atividade na CCDRC durante as últimas décadas esteve associada ao planeamento regional, muito marcada pela elaboração das estratégias regionais subjacentes aos vários ciclos de programação dos fundos europeus (desde os vários QCA, passando pelo QREN, até ao PT2020 e PT2030) e depois à sua concretização através dos Programas Operacionais Regionais e Programas de Cooperação Territorial Europeia (particularmente INTERREG I, II e III e POCTEP). Nesse âmbito as competências enquanto geógrafo têm sido relevantes quer na dimensão de planeamento (do diagnóstico à definição de opções estratégias e planos de ação) quer na dimensão de operacionalização, através do desenho de instrumentos de financiamento, particularmente de natureza territorial, de que dou o exemplo da iniciativa PROVERE (Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos), que tem sido uma aposta estratégica na Região Centro enquanto ferramenta dirigida à dinamização económica de territórios de baixa densidade.

6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Não sendo um requisito que esteja presente explicitamente nas atividades que desenvolvo, até porque, como referi, é um ambiente em que se cruzam pessoas com formações muito distintas, penso que fica evidente a formação em Geografia pela forte ligação afetiva a territórios concretos que fizeram parte da minha formação na Universidade (de que destaco o Maciço Calcário Estremenho, a Serra da Estrela e a Beira Baixa) e que depois estiveram presentes em muitas iniciativas e contextos profissionais. 

7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
O mundo atual e o tipo de formação em geografia que hoje é ministrada nas universidades é muito diferente de há 30 anos. E bem. Considero que a formação em geografia está, na atualidade, muito alinhada com a necessidade de desenvolvimento de competências e a formação de uma mundividência nos jovens geógrafos que os capacite para terem um papel ativo num leque muito amplo de situações e organizações, de diferente natureza (públicas, associativas ou mesmo privadas).  
No contacto regular com um leque muito amplo de entidades na Região Centro fica para mim claro o grande défice de recursos humanos qualificados que contribuam para a consistência e qualidade da atuação daquelas organizações. Comunidades Intermunicipais e Câmaras Municipais, entidades associativas de natureza empresarial ou na área do desenvolvimento local e regional, bem como empresas, têm uma grande necessidade e urgência na captação de talentos. Essa urgência é mais vincada nos territórios de interior. De facto, existem muitas oportunidades nestes territórios, pois têm dificuldades em atrair jovens ativos. E são territórios com condições de vida, em muitas dimensões, melhores que cidades como Lisboa e Porto. E os geógrafos têm o conhecimento e a sensibilidade para reconhecer estas diferentes dimensões e realidades.  

8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Assinalo a recente eleição do Papa Leão XIV, em duas dimensões. A primeira, relacionada com o colégio de 133 cardeais eleitores de 70 países. Apesar de ser ainda formado essencialmente por cardeias originários da Europa e América do Norte, os restantes continentes têm já uma representação muito significativa, nomeadamente América Latina, África e Ásia, numa abertura muito saudável a todas as geografias e origens. Em segundo, a própria pessoa do Papa. Natural dos Estados Unidos da América, de ascendência europeia, tem também nacionalidade peruana, na sequência dos anos que passou neste país, em missão. A que acresce uma marca muito forte do espírito agostinho, de vida em comunidade, junto das pessoas concretas e das suas realidades. 
Destaco ainda a unanimidade sobre a importância da eleição de um Papa atento aos grandes problemas globais. E parece que o Papa Leão XIV vem ao encontro deste desejo, evidente na sua mensagem de paz para o mundo.

9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
Sugiro a Rede das Aldeias de Montanha, uma parceria liderada pela ADIRAM - Associação de Desenvolvimento Integrado da Rede de Aldeias de Montanha, que procura dinamizar um conjunto de aldeias entre a Serra da Estrela e a Serra da Gardunha, valorizando os ativos naturais e culturais destes territórios, promovendo dinâmicas de desenvolvimento inovadoras mas que respeitam e envolvem as pequenas comunidades serranas.