# 106 Dora Sampaio
Nome: Dora Sampaio
Naturalidade: Monchique
Idade: 37
Formação académica: Geografia Humana
Ocupação Profissional: Professora Auxiliar no Departamento de Geografia Humana e Planeamento Territorial, Universidade de Utrecht, Países Baixos
1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
A geógrafa/o é aquela/e que tem um interesse e curiosidade profundos nos fenómenos com significado e ramificações no território. É o pensamento geográfico que guia a minha investigação e o meu interesse no movimento de pessoas, mudanças sociodemográficas e desigualdades entre lugares. O meu trabalho desenvolve-se no âmbito da geografia social, na intersecção do estudo das migrações internacionais e o percurso de vida.
2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
No futuro próximo, vou iniciar um novo projeto de investigação, denominado RETIREWEL, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação. Neste projeto exploro a questão central de como é que indivíduos se preparam para e vivenciam o período de reforma em mais do que um país. Esta é uma realidade para muitas pessoas e por várias razões: indivíduos cujo esposo/a é de um país diferente, o desejo de estar próximo a familiares no estrangeiro, passado laboral em mais do que um país, o desejo de aceder a cuidados de saúde mais baratos, ou passar o período de reforma num local com um clima mais agradável. Este tipo de mobilidade está a crescer e cria novas questões e desafios para os regimes nacionais de proteção social, para as famílias, e também produzem novos nichos de mercado.
Em equipa, iremos abordar este quebra-cabeças através de um estudo comparativo da reforma transnacional centrado em três corredores migratórios: Portugal-Brasil, Países Baixos-Turquia e Reino Unido-Índia.
Para além do projeto RETIREWEL, estou também envolvida numa colaboração internacional que explora a questão da mudança territorial em áreas rurais onde fluxos migratórios produzem novas dinâmicas sociais e territoriais. No caso de Portugal, focamo-nos no concelho de Odemira.
3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Conexões, lugar, pertença.
4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Recentemente li o livro ‘O que é meu’ de José Henrique Bortoluci. É um livro que agarra o leitor desde a primeira página, levando-nos numa viagem com o Didi, o pai do autor, e um camionista nas estradas do Brasil. É um livro de passado, presente e futuro incerto, percorrendo o período de ditadura militar no Brasil e refletindo sobre ideias de mudança, progresso e oportunidades (ou falta delas).
5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
A minha formação enquanto geógrafa é essencial no trabalho que realizo; quer no ensino da geografia – leciono, por exemplo, introdução à geografia humana, discutindo conceitos e teorias básicas da disciplina – como também nos projetos e equipas que integro, muitas delas interdisciplinares.
6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Na colaboração com equipas interdisciplinares, por exemplo, ao nível de questões de desenvolvimento e padrões migratórios, a formação em geografia e sensibilidade aos padrões espaciais, análises multiescalares, e relações complexas entre pessoas e lugares é certamente uma mais-valia.
7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
A geografia continua a ser uma disciplina fundamental na formação do nosso conhecimento. Enquanto geógrafos, desenvolvemos competências fortes em termos da compreensão da interligação entre fenómenos, e capacidade de trabalhar em equipas interdisciplinares que é essencial para abordar os temas complexos com que nos deparamos atualmente. Há um enorme potencial para a geografia oferecer respostas a questões globais com profundos impactos territoriais, tais como mudanças sociodemográficas e desigualdades sociais e de desenvolvimento, um planeamento do território mais justo e eficiente, estudo da transição energética, e alterações climáticas.
8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Um dos eventos recentes que, mais uma vez, demonstra a relevância ampla da geografia é o foco na Gronelândia. Um território normalmente pouco presente nos media, a Gronelândia possuí uma relevância geográfica e geoestratégica multifacetada, ligada nomeadamente aos seus recursos naturais, impacto ambiental, e posição estratégica do ponto de vista da estratégia militar e rotas marítimas. Uma perspetiva geográfica nestas discussões permite uma análise matizada de um território que é vital ao nível global, em termos de comércio, segurança, recursos e ciência climática.
9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
Haveria muitas recomendações, mas deixo os Açores (qualquer uma das ilhas) como recomendação primeira e uma escolha também pessoal uma vez que foi nos Açores que realizei trabalho de campo para o meu doutoramento. Pela sua riqueza social, cultural e paisagística, onde geografia humana, geografia física e ordenamento do território confluem.