# 103 Eduarda Costa

Nome: Eduarda Pires Valente da Silva Marques da Costa
Naturalidade: Lisboa
Idade: 58 anos
Formação académica: Doutoramento em Geografia – especialização em Planeamento Regional e Urbano, ULisboa
Ocupação Profissional: Docente no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da ULisboa
Outros: Investigadora do Centro de Estudos Geográficos da ULisboa

1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
Licenciada em Geografia e Planeamento Regional e Local na FLUL, Mestre em Geografia – Planeamento Regional e Urbano na FLUL e Doutorada em Geografia – especialização em Planeamento Regional e Urbano, ULisboa, em 2001, Eduarda Marques da Costa tem, ao longo dos últimos 36 anos, vindo a exercer a carreira docente na sua instituição de formação. Paralelamente à docência, tem desenvolvido investigação no Centro de Estudos Geográficos da ULisboa, onde coordena o Grupo de Investigação MOPT – Modelação, Ordenamento e Planeamento Territorial, tendo coordenado e participado em vários projetos de investigação e consultoria ao nível europeu e nacional. Com 36 anos a ensinar e investigar, mais 4 de estudo na licenciatura, a prática tem-se expressado em várias áreas que foram cumulativamente evoluindo no tempo: da geografia económica e social, à geografia urbana, passando mais recentemente pela geografia da saúde, estas têm sido bases para o desempenho no desenho e avaliação de políticas nos domínios do ordenamento e desenvolvimento do territorial. 

2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
Hoje, os desafios societais, não só são mais diversos, como têm impactes mais imediatos no tempo e mais extensos em termos de alcance populacional e territorial. Esta tendência exige maior capacidade de resposta, quer pela identificação dos fatores determinantes das mudanças, quer na capacidade de encontrar respostas em termos de políticas que antecipem os impactes negativos. Não sendo esta uma área nova na minha atividade, penso que é fundamental integrar a vasta informação disponível ao momento, como complemento das formas tradicionais de recolha direta e indireta de dados. Mas para esta integração ocorrer de forma coerente e poder ser útil às políticas públicas, é necessário aprofundar o debate teórico-metodológico, integrando os diferentes saberes. Assim, pretendo usar a minha experiência na área das políticas públicas para fomentar esse diálogo.

3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Território, Ordenamento do Território e Desenvolvimento

4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Neste exercício de destacar alguns livros, não hesito em apontar que o gosto pela leitura vem de muito jovem, marcado pela leitura compulsiva e repetitiva durante as férias de verão das várias coleções da Enid Blyton. Depois vieram os clássicos portugueses trazidos pelo meu pai, que fazia questão de os discutir comigo, em busca das afinidades com a matriz rural e urbana do nosso país, que encontrávamos nas frequentes viagens. Assim, se tiver de eleger um livro que já (re)li várias vezes, sempre com o mesmo entusiamo, mesmo já sabendo o final, escolho os “Maias” de Eça de Queirós, pela riqueza de enredo e pela capacidade de me fazer viajar no tempo.
Como livro ligado à atividade profissional destacaria o “Spatial Organization: The geographer's view of the world”, de Abler, Adams e Gould, publicado em 1971, trazido pelo meu mestre Jorge Gaspar na UC de Introdução à Geografia Humana, mas que se mantém vivo por ter sido tão estruturante para o exercício de ler o território. Hoje recorro a outras abordagens e metodologias, mas assumo que foi fundamental ter assimilado a matriz de leitura do espaço que esta obra nos traz, para desenvolver o meu sentido critico sobre os fenómenos. 

5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
No meu caso, pela carreira da docência e de investigação que desenvolvi, foi 100% de relevância.

6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
No início da carreira, enquanto investigadora em Geografia, mas já com uma visão apontada para o planeamento regional e urbano, esse reconhecimento ocorreu de forma natural pelas competências que tinha adquirido no curso e que me permitiam recolher, sistematizar, tratar e discutir informação e métodos, numa abordagem fortemente embasada pela teoria, valorizando as diferenças territoriais nos vários estudos de consultoria e projetos de investigação que desenvolvia. O traquejo de encontrar sempre uma informação que nos ajude a explicar e a medir esse fenómeno, para que de forma fundamentada possamos avançar para o estabelecimento de políticas públicas que sirvam a hierarquia de necessidades e a equidade entre os vários grupos-alvo, foi com certeza a melhor arma que o curso me deu. 
Para mim, não tem sido difícil dialogar com outras formações, mais ainda num tempo onde a geografia é fundamental para explicar o mundo de hoje.

7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
A mensagem que tenho é para jovens e menos jovens; o conhecimento trazido pela ciência geográfica tem inúmeras aplicações na vida profissional. Claro que tradicionalmente pensamos sempre em professores ou técnicos municipais. Mas o mundo de oportunidades está aberto, desde que sejamos capazes de aplicar as competências únicas de um geógrafo: saber ler as diferenças no território. 
Na ânsia de querer trabalhar de forma interdisciplinar, sinto que alguma da Geografia ministrada atualmente no ensino superior se vem afastando do que são as suas vantagens temáticas e metodológicas, confundindo conceitos e abordagens. Há que valorizar a Geografia. Um geógrafo encontra o seu caminho e reconhecimento, se souber fazer geografia.

8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
A pandemia COVID 19 trouxe relevância ao conhecimento geográfico; a compreensão dos padrões de difusão, que a globalização da economia e a intensificação dos fluxos populacionais, vieram acelerar. Por outro lado, assistimos a uma re-emergência da importância da saúde (contemplando para além das doenças transmissíveis, as não transmissíveis) no contexto do planeamento urbano. Mas não restrinjamos a leitura à “doença”, mas pensemos no papel da prevenção e a adequação às populações, na qualidade alimentar, nos riscos inerentes a catástrofes naturais, e em muito outros temas atuais. É necessário pensar de forma holística, sendo que o conceito de Saúde Global, poderá dar novas respostas à sociedade.

9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
O Algarve, tem sido uma das áreas de estudo que mais tenho privilegiado no desenvolvimento de trabalhos, visitas e organização de workshops com os estudantes. É um território muito diversificado, que reproduz o padrão territorial do território continental – o Portugal “deitado”- . Neste confluem dois subsistemas urbanos dominantes ancorados no litoral, um quadro de ocupação dispersa nas várias áreas servidas por vias que lhes conferem acessibilidade, e um conjunto de áreas de cariz rural, onde vive uma população envelhecida com menor acesso a serviços. Discutir documentos como o PROT Algarve ou o atual PO Algarve 2030, dá entendimento sobre a persistência dos problemas estruturais como o envelhecimento ou a escassez de habitação, e a emergência de novas agendas como a produção de energia ou a questão da água, entre muitas outras. É fundamental visitar o território e falar com os agentes que participam na sua construção para que as nossas propostas possam ter efetividade. Não esqueçamos que o trabalho de campo é um instrumento fundamental da geografia.