# 102 Sandra Custódio
Nome: Sandra Isabel de Oliveira Custódio
Naturalidade: Santa Maria da Feira
Idade: 43
Formação académica: Licenciatura em Geografia, Ramo de formação educacional, pela Universidade de Coimbra e Mestrado em Gestão e Administração Escolar, pela Universidade Católica Portuguesa
Ocupação Profissional: Professora de Geografia do Ensino Básico e Secundário. Este ano a exercer funções no Agrupamento de Escolas Fernando Pessoa, em Santa Maria da Feira
Outros: Coautora de manuais escolares de Geografia 3º Ciclo
1 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende
Poderia referir vários livros, desde as leituras mais antigas efetuadas durante a faculdade como a obra “Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico”, leitura obrigatória para qualquer estudante de Geografia. Nesta obra, Orlando Ribeiro estabelece uma relação profunda entre a posição de Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, mostrando como estes moldam a história, a cultura, bem como a identidade portuguesa. Considero-o um livro essencial para a compreensão da História, da Geografia e da cultura nacional.
Mais recentemente, um livro que me marcou foi “O vento conhece o meu nome” de Isabel Allende. Durante a leitura do livro somos convidados a viajar pela História, passando por diversos continentes, onde a Geografia está sempre presente. São diversos os temas abordados na obra, como a identidade, o amor, a luta pela liberdade e a procura de melhores condições de vida, bem como as dificuldades que muitas pessoas passam para o conseguir. Com esta leitura somos despertados para o flagelo das migrações e as dificuldades que milhares e milhares de pessoas passam na esperança de conseguir melhores condições de vida noutros países. Neste livro, a autora, através da sua escrita detalhada consegue transportar-nos para a história de vida das personagens, pois os detalhes são tão ricos que nos despertam a curiosidade em ler o livro até ao fim.
Após a sua leitura é importante uma reflexão sobre o ser humano em tempos de crise e a procura incansável pela liberdade.
2 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
Ser geógrafa é fundamental no meu dia a dia. Ser geógrafa permite-me olhar o espaço envolvente de forma diferente, mais consciente e com diferentes perspetivas todos os dias. A forma como observamos e analisamos o Mundo é única. Os geógrafos têm a capacidade de compreender as inter-relações entre o espaço e a ocupação do território pelo ser humano. Enquanto docente de Geografia é isso que tento transmitir aos meus alunos diariamente. Mais do que explicitar conceitos essenciais da disciplina, o meu foco é sempre que estes tentem perceber a relação que existe entre as atividades humanas e a organização do espaço, do território. O que nem sempre é fácil para os alunos do ensino básico e, por isso mesmo, recorro sempre que possível a exemplos do seu quotidiano, às suas vivências, à atualidade. Levar a atualidade para a sala de aula, torna as aulas mais ricas, mais aliciantes para os jovens. É importante que os jovens de hoje vejam a aplicabilidade prática dos conteúdos, percebam uma notícia que vêm nos meios de informação. A Geografia desenvolve capacidades de analisar criticamente dados espaciais, gráficos, mapas e identificar tendências para resolver problemas relacionados com questões geográficas. E são estas ferramentas que são importantes transmitir aos jovens de hoje.
3 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Enquanto docente de Geografia, a minha formação é reconhecida. É com muito orgulho que exerço a minha profissão diariamente e tento transmitir aos meus alunos a importância que a disciplina tem. A importância da Geografia na organização do espaço, na gestão de conflitos, na perceção que cada indivíduo tem do mundo e do lugar onde vive.
4 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
A um jovem à entrada da faculdade, em primeiro lugar daria os parabéns pela entrada no ensino superior, principalmente pela entrada no curso de Geografia, assim como lembraria da importância em ter um papel ativo nos diferentes projetos que a faculdade desenvolve, recordando que o Mundo está em constante mudança e que a Geografia tem um papel principal nessas mudanças. Basta pensar em tudo o que tem acontecido no Mundo nos últimos tempos, quer seja a nível ambiental, quer seja a nível político, com os conflitos que têm surgido e se têm agudizado. Acredito que os jovens geógrafos de hoje podem assumir no futuro um papel muito importante, por exemplo, na defesa do ambiente, na utilização da tecnologia e da informação georreferenciada, no estudo das migrações e no processo de globalização.
Outro aspeto que ganhou importância sobretudo em tempos de pandemia é o estudo das relações que se estabelecem entre a saúde e o ambiente através, não só da criação de mapas, mas acima de tudo através da análise desses mesmos mapas. Ainda no decorrer da semana passada fomos confrontados com notícias sobre a afluência às urgências do hospital de Aveiro em resultados dos incêndios florestais que assolaram a região.
O Mundo está cada vez mais interligado e os geógrafos têm a capacidade de agregar diferentes áreas do conhecimento e encontrar respostas para vários desafios que se colocam à humanidade. E é por este motivo que a formação em Geografia nos abre portas para várias saídas profissionais. E o planeta necessita de geógrafos para a construção de um Mundo mais sustentável, equilibrado e resiliente.
5 - Queríamos pedir-lhe que escolha um acontecimento recente, ou um tema atual, podendo ambos ser de âmbito nacional ou internacional. Apresente-nos esse acontecimento ou tema, explique as razões da sua escolha, e comente-o, tendo em conta em particular a sua perspectiva e análise como geógrafo.
Infelizmente, os incêndios florestais que ocorreram durante o mês de setembro não nos deixam indiferentes a esta problemática que assola o nosso país e outros países a nível mundial, todos os anos.
Os incêndios são um grave problema que todos os anos afetam de forma significativa o nosso território e que têm acontecido de forma cada vez mais intensa nos últimos anos. São vários os fatores que contribuem para a ocorrência de incêndios florestais, desde as características climáticas, com verões quentes e secos, o aumento da temperatura em resultado das alterações climáticas, a gestão dos terrenos com práticas agrícolas e florestais, por vezes, inadequadas às características do território, o abandono dos espaços rurais que leva ao abandono das práticas agrícolas e que contribui para o aumento do combustível disponível, que acaba por alimentar os incêndios.
Tudo isto acarreta consequências não só para a população com a perda de vidas, destruição de propriedades, a perda da biodiversidade, a degradação do solo e o impacto na saúde pública que pode causar problemas respiratórios graves na população.
A redução do risco de incêndios exige um trabalho conjunto de vários especialistas da área florestal, na gestão e organização do território, bem como das autoridades governamentais. É crucial também a tomada de consciência por parte dos cidadãos sobre os cuidados a ter em períodos mais críticos para a ocorrência dos incêndios florestais. Especialistas nesta área dos incêndios florestais, como a Professora Doutora Fantina Tedim nos diz: “Os incêndios florestais têm características próprias que são importantes que a população conheça até para saber como reagir e garantir a sua segurança em caso de ser surpreendida por um incêndio.”
6 - Que lugar recomendaria para saída de campo em Portugal? Porquê?
Esta é uma pergunta difícil de responder, pois para mim todos os lugares de Portugal são maravilhosos. Adoro o nosso país! Mas tendo de escolher um, creio que recomendaria o Alto Douro Vinhateiro, Património Mundial da Unesco. Aqui encontramos uma paisagem única e inconfundível a nível mundial, que combina a montanha e o rio Douro que serpenteia por entre as montanhas. Aqui são possíveis várias aulas de Geografia. Desde as montanhas íngremes, os meandros do Douro, o cultivo da vinha em socalcos, a dispersão da ocupação pelo território, a tradição vitivinícola com a produção de vinho com métodos de cultivo e vinificação passados de geração em geração, aliados às várias quintas existentes na região. A topografia do Douro exige técnicas de cultivo especiais, com recurso aos socalcos e muros de pedra para evitar a erosão dos solos. Os olivais também típicos da paisagem que levam à produção de azeite de elevada qualidade. Mais recentemente a prática do turismo associada não só à natureza, mas também a enologia tem cativado o interesse de milhares de turistas de todo o Mundo, que apreciam a beleza e tranquilidade da região.
Em suma, o Alto Douro Vinhateiro seria uma excelente opção para uma saída de campo, pois alia a natureza montanhosa e o rio Douro que criam uma paisagem única e rica em património e tradições, constituindo-se um exemplo fascinante da relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza.