# 101 Pedro Chamusca
Nome: Pedro Chamusca
Naturalidade: Ermesinde
Idade: 41 anos
Formação académica: Licenciatura em Geografia, com especialização em Ordenamento do Território (FLUP, 2005) Doutoramento em Geografia (FLUP, 2012)
Ocupação Profissional: Investigador Auxiliar no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho
Outros: Apaixonado pela família, tem no atletismo a principal atividade de descontração.
1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
Sou Geógrafo desde 2005 e trabalho em Geografia desde 2006. Ao longo destes dezoito anos de experiência profissional, tive oportunidade de “fazer Geografia” de diferentes formas, designadamente na consultoria a projetos de ordenamento e desenvolvimento territorial, na investigação científica e na docência, em contextos diversificados que se estendem do ensino básico ao superior, passando pela formação profissional. Em todos estes desempenhos profissionais procurei valorizar o papel da Geografia enquanto disciplina útil, para a compreensão, gestão ou intervenção do território.
Atualmente a Geografia é central no meu desempenho enquanto investigador e docente na Universidade do Minho. Desenvolvo investigação em questões diversificadas, mas que podem agrupar-se em dois domínios distintos. Um primeiro agrega temas associados ao desenvolvimento local e regional, em especial na sua associação às questões da coesão territorial e da comunicação estratégica. Neste contexto, procuro explorar o papel que os sistemas de informação geográfica podem desempenhar no apoio à compreensão das dinâmicas territoriais, ajudando a desenvolver ferramentas de apoio à tomada de decisão e de promoção da eficiência no contexto das políticas públicas. O segundo domínio de análise está associado a dinâmicas de organização e planeamento territorial, associado a áreas urbanas e periurbanas. Neste contexto, além da análise de dinâmicas económicas e sociais recentes, procuro avaliar o potencial de implementação de soluções concretas, como o modelo da cidade dos 15 minutos, e a sua capacidade de resposta a desafios colocados em questões como a habitação, a mobilidade ou o ordenamento do território.
2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
O meu projeto para o futuro imediato é continuar a ser feliz. E a Geografia faz-me feliz e tem-me oferecido imenso ao longo da vida.
No campo profissional, é sempre complicado definir projetos a longo prazo. Além da atividade regular – de investigação e docência (em que gostaria de manter uma capacidade permanente de atualização e aprendizagem) – tenho a consciência que muito do que poderá ser feito no futuro depende da capacidade de obtenção de financiamento para projetos de investigação (fundamental ou aplicada) e que a fronteira entre uma avaliação favorável ou desfavorável é muito ténue. Neste contexto, envolto em bastante incerteza, há dois projetos de investigação que pretendo desenvolver com sucesso. O primeiro é o projeto “INPUT - Envolvendo lugares e comunidades para transições periurbanas inclusivas”, financiado pela FCT no âmbito das Driving Urban Transitions. Este projeto, iniciado em 2024, procura alargar o conceito da cidade de 15 minutos às áreas periurbanas de Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão, desenvolvendo tipologias espaciais apropriadas ao local e transformações estratégicas que conduzam a ambientes de 15 minutos, através da inclusão e participação ativa da sociedade. O segundo, “Explorar o potencial de desenvolvimento transfronteiriço” pretende analisar questões associadas ao desenvolvimento regional e à coesão territorial, estando em apreciação pela FCT.
Em paralelo, gostaria de desenvolver iniciativas de aplicação e transferência do conhecimento, dando seguimento à construção – científica e tecnológica – de plataformas de apoio à tomada de decisão, dando continuidade à experiência iniciada com a construção do Observatório das Dinâmicas Territoriais do Tâmega e Sousa.
3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Se tivesse de definir a Geografia em três palavras, escolheria espaço, território e contexto. O espaço é a base fundamental da Geografia, representando o palco onde ocorre um conjunto diversificado de interações naturais e sociais. Através do estudo do espaço, compreendemos a distribuição e a organização dos fenómenos físicos e humanos, desde os ecossistemas até à urbanização, e como esses processos se relacionam. O território vai além da dimensão física, pois incorpora as relações de poder, identidade e pertença que se manifestam nas dinâmicas sociais, económicas e políticas. Ao estudar o território, a Geografia torna-se uma ciência central para entender o mundo contemporâneo, especialmente na forma como os seres humanos transformam e são moldados pelo espaço que habitam. Por fim, o contexto é essencial para interpretar essas relações. Cada território e espaço tem uma história, uma cultura e um conjunto de condições específicas que influenciam o seu desenvolvimento. A Geografia é, assim, uma ciência contextual, que integra múltiplas escalas – do local ao global – e oferece uma visão crítica e abrangente das dinâmicas que moldam o nosso mundo.
4 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Existem vários livros fundamentais na Geografia, tanto clássicos como contemporâneos. No entanto, um livro que li recentemente e que destaco é a obra "Development and Territorial Restructuring in an Era of Global Change: Theories, Approaches and Future Research Perspectives", editada por Élisabeth Peyroux, Christine Raimond, Vincent Viel e Émilie Lavie. Esta obra examina como as reestruturações territoriais são moldadas pelas transformações globais, oferecendo uma análise teórica aprofundada e uma visão crítica sobre as dinâmicas que afetam o desenvolvimento dos territórios. O livro é particularmente relevante por explorar temas como a globalização, as mudanças climáticas e o urbanismo, propondo novas perspetivas de investigação. É uma leitura imprescindível para quem deseja entender os desafios contemporâneos do planeamento territorial, bem como as implicações dessas mudanças para as políticas públicas e a gestão sustentável dos territórios. A sua abordagem multidisciplinar enriquece o debate sobre as tensões entre o local e o global, oferecendo uma base sólida para repensar as políticas de desenvolvimento.
5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
A Geografia faz parte da minha vida desde 2001. São já 23 anos, o que dificulta bastante a resposta a esta questão, porque na verdade não sei o que é viver sem a influência da Geografia. Ainda assim, correndo o risco de ser genérico, gostaria de destacar três pontos que me parecem revelar muito do significado que a Geografia tem para mim.
Em primeiro lugar uma imensa satisfação e felicidade. A Geografia deu-me muito do que tenho hoje: uma mulher (e uma família) fantástica, amigos extraordinários e uma condição incrível para me sentir realizado pessoal e profissionalmente, analisando e discutindo questões muito diversas. Todos os dias, o feliz acaso que tive ao escolher ingressar numa licenciatura em Geografia faz questão de me lembrar o quão acertado esse impulso foi, traduzindo-se em felicidade e realização pessoal.
Em segundo lugar, entendo que a minha condição de Geógrafo me proporciona um olhar atento (e constante) sobre o território, levando a que procure sempre analisar e compreender as opções estratégicas e as dinâmicas que sustentam a paisagem que observo.
Finalmente, ser Geógrafo é relevante na minha atividade porque estimula um fascínio pela representação do território e pela comunicação geográfica, desafiando-me à aprendizagem e conhecimento permanente.
6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Atualmente, sou investigador num centro onde a área dominante são as ciências da comunicação, mas a interdisciplinaridade é amplamente valorizada. As competências específicas da Geografia, como a análise espacial e a gestão de informação, são reconhecidas como essenciais para compreender fenómenos sociais e comunicativos em diferentes contextos. Esse reconhecimento expressa-se, por exemplo, numa valorização dos meus contributos e em convites para novos desafios, como aquele que iniciei recentemente com a coordenação a plataforma Communitas, em colaboração com uma colega da Sociologia e outro das Ciências da Comunicação. Esta plataforma procura promover a reflexão e a discussão sobre diferentes temáticas no âmbito das ciências sociais, procurando seguir os ritmos das agendas sociais e políticas, assumindo uma forte componente geográfica.
7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Há respostas que são imediatas e quase de senso comum. Para um jovem a entrar na universidade diria que a formação em Geografia oferece uma visão ampla e integrada do mundo, permitindo compreender as complexas relações entre a sociedade e o ambiente. Na sociedade do futuro, a crescente urbanização, as alterações climáticas e os desafios globais irão requerer geógrafos capacitados para trabalhar em áreas como o planeamento, a sustentabilidade e a análise territorial. Esta formação abre portas para um leque diversificado de carreiras, desde o setor público até à consultoria privada e à investigação. Para um geógrafo já formado gostaria de transmitir a mensagem de que as perspetivas para os geógrafos estão a expandir-se num mundo cada vez mais dependente de soluções sustentáveis e estratégias de desenvolvimento territorial equilibradas.
A todos, diria que o fundamental é fazerem algo que gostem e em que se sintam realizados pessoal e profissionalmente. Se entendem, em consciência, que a Geografia é a área disciplinar adequada para conseguirem isto, então devem esforçar-se por responder de forma eficaz aos desafios que vão surgindo. É um período em que as oportunidades serão muitas, em que o mundo precisa da Geografia e, em que o contexto português é marcado por uma forte procura de profissionais, designadamente no contexto do ensino da Geografia.
8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Os incêndios de 2024 em Portugal reforçam a urgência de se repensar o ordenamento do território. Estes eventos extremos, cada vez mais frequentes devido a um conjunto de novas dinâmicas, expõem vulnerabilidades na gestão florestal e urbana. A Geografia desempenha um papel crucial na identificação de áreas de risco, analisando a relação entre o uso do solo, as condições climáticas e as dinâmicas territoriais. Além disso, a Geografia pode contribuir significativamente para a disseminação de informação relevante para a tomada de decisão. Ferramentas como os sistemas de informação geográfica (SIG) permitem monitorizar, prever e planear medidas preventivas e de resposta. A análise geográfica do território deve orientar políticas públicas, não só no combate imediato aos incêndios, mas também na recuperação de áreas afetadas e na promoção de estratégias de prevenção a longo prazo, como a diversificação do uso do solo, o reflorestamento sustentável e a criação de zonas de segurança.
9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
Em Geografia, qualquer espaço proporciona uma excelente visita de estudo, pois a compreensão das dinâmicas espaciais e temporais oferece inúmeras perspetivas de análise. Tendo de selecionar um, recomendo uma visita a Valongo, o concelho onde nasci e cresci, porque apresenta imensos campos de análise com interesse em Geografia. Permitam-me destacar três, como forma de “abrir o apetite” para a visita.
Em primeiro lugar Ermesinde é um excelente lugar para analisar um conjunto de dinâmicas urbanas. O desenvolvimento urbano de Ermesinde está intimamente ligado à sua localização estratégica no contexto de ligações ferroviárias e rodoviárias que ligam o Porto a outras regiões. Esta acessibilidade facilitou o crescimento demográfico e económico da cidade, tornando-a um importante espaço para a fixação de população. Mais recentemente, a transformação urbana de Ermesinde, promovida pelo programa Polis, ilustra um modelo de regeneração urbana que pode ser analisado em termos de impacto social e ambiental. Este programa visou a revitalização dos espaços públicos e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, permitindo não só a requalificação do centro de Ermesinde, mas também a criação de uma nova estação ferroviária e de espaços culturais e de lazer, como o Fórum Cultural de Ermesinde, integrado no Parque Urbano Dr. Fernando Melo.
Em segundo lugar, o Parque das Serras do Porto destaca-se pela sua diversidade ambiental. A combinação de áreas florestais, caminhos pedestres e miradouros oferece uma oportunidade de estudar a interação entre a natureza e o desenvolvimento urbano, bem como as políticas de conservação e uso do solo.
Por fim, a tradição económica e produtiva da região, associada à Lousa, ao brinquedo e à panificação, entre outro, revela a riqueza cultural e histórica de Valongo. Este contexto proporciona uma análise das dinâmicas económicas locais, a forma como estas se relacionam com a identidade da comunidade e como se foram adaptando aos novos desafios, globais e locais, da contemporaneidade.
Esses elementos fazem de Valongo um excelente local para uma visita de campo, permitindo uma análise holística das interações entre o espaço, a sociedade e a economia.
10 – O que significou para si exercer a presidência da APG?
Foi um enorme orgulho e satisfação poder servir a Geografia Portuguesa durante os oito anos em que estive nos órgãos sociais da Associação Portuguesa de Geógrafos, os últimos dois como Presidente. Foi uma enorme honra procurar retribuir um pouco do que a Geografia me deu.
O trabalho realizado foi sempre resultado de um excelente coletivo, com Geógrafas e Geógrafos, de vários pontos do país, a trabalharem em prol da Geografia. Neste contexto, destacaria três questões que me marcaram positivamente: 1) a disponibilidade de muitos para trabalhar, voluntariamente, pela defesa e valorização da Geografia; 2) o progressivo reconhecimento e valorização das várias formas de exercer a Geografia (ensino – básico, secundário e superior – , investigação, administração pública, consultoria privada); 3) a colaboração institucional com a Associação de Professores de Geografia, que permitiu consolidar e reforçar o número e tipo de atividades desenvolvidas.