A paisagem numa imagem: olhares fotográficos de Emílio Moitas e Martinho Manuelito | Fátima Velez Castro

A paisagem numa imagem: olhares fotográficos de Emílio Moitas e Martinho Manuelito | Fátima Velez de Castro
Ferreira Gullar, escritor e poeta brasileiro, disse um dia que “a arte existe porque a vida não basta”. E o que seriamos nós sem a arte? No caso da Geografia, a ciência anda muitas vezes, lado a lado, com expressões artísticas como a literatura, o cinema, a pintura ou a fotografia. Neste tipo de imagens fixas, há quem observe a paisagem através da lente de uma máquina fotográfica ou, fruto dos tempos, através da câmara de um telemóvel, de forma maravilhosamente sublime. Daqui decorre uma dupla vantagem à/ao investigador/a; por um lado, é-lhe permitido extrair elementos geográficos, de acordo com os cânones do método científico; por outro, é-lhe dada a oportunidade de captar a beleza e a plenitude de um lugar.
É por isso que vos dou a conhecer o trabalho e os olhares de dois amigos de Arronches, que são exímios na arte da fotografia: Emílio Moitas e Martinho Manuelito. É um deleite acompanhar os seus trabalhos nas redes sociais, em que retratam, de forma inteligente e sensível, a forma como olham os territórios em redor. A partir da geografia dos lugares, captam as paisagens quotidianas com a mestria digna de ser observada, analisada e estudada pela ciência geográfica.
Publicamos apenas duas fotos para aguçar o deleite da descoberta para as/os leitoras/es desta rúbrica, e também para conhecerem os fotógrafos. Na primeira, Emílio Moitas retrata-se, tendo uma paisagem de montado em fundo. Vemos uma paisagem de sequeiro, o campo no final de um ciclo agrícola, a palha pronta para os animais, azinheiras e sobreiros, a Serra de S.Mamede no último plano. A riqueza desta foto sobre uma paisagem típica do Alto Alentejo, serviria para, na Universidade, integrar um estudo comparativo da evolução do espaço rural em Portugal, do ponto de vista cronotópico ou, na Escola, para ser analisada numa aula de Geografia do Ensino Básico e Secundário. Na segunda, Martinho Manuelito deixa-se fotografar pela sobrinha Catarina Manuelito. A barragem do Abrilongo, em Campo Maior, que domina o último plano, contrasta com a azinheira, onde o fotógrafo se apoia. A imagem é uma metáfora real das tradicionais culturas de sequeiro versus os novos desafios do regadio no Alentejo, que tantas questões levantam do ponto de vista da sustentabilidade ambiental. Ambas as fotos seriam um excelente ponto de partida para um debate em torno do tema das novas tendências agricultura, do uso da água e das respetivas consequências em termos de uso do solo, da biodiversidade e da alteração da paisagem no sul do país, tanto em contexto universitário, como escolar.
Muitas mais excelentes fotos de Emílio Moitas e Martinho Manuelito podem ser descobertas pela Geografia. E quem quiser conhecer melhor a arte que carateriza os olhares geográficos destes dois fotógrafos autodidatas, podem segui-los em: https://www.facebook.com/moitas.sul e https://www.facebook.com/mmanuelito