A Geografia do sentir | Teresa Amaro da Fonseca

A Geografia do sentir | Teresa Amaro da Fonseca

Volto ao lugar onde me lembro da decisão de ter escolhido a Geografia como a minha área de saber, mas só mais tarde reconheci a conexão de a ter elegido como a minha área profissional. A necessidade de compreender as relações entre a humanidade e a natureza marcaram sempre a minha curiosidade. A forma como os lugares marcavam as oportunidades de quem lá nascia; as pessoas que revelavam dialetos, valores e formas de ver o mundo, porque simplesmente tinham nascido num lugar diferente do meu; a liberdade com que cada um se expressava ou relacionava com o seu mundo; tudo isto me despertava e continua a despertar a tal curiosidade de que tanto gosto de desafiar nos meus alunos.

Neste sentir, percebi que a forma como escolhia as áreas de investigação ao longo do meu percurso académico, tinham a ver com isto, mas sobretudo com o sentir. O sentir em fazer diferente, em marcar os lugares por onde passava e permitir que os lugares e as suas pessoas deixassem em mim os seus sentires. Exatamente o mesmo que a Geografia nos ensina sobre a compreensão dos lugares.

Nesse processo, a literatura não científica sempre fez parte do meu quotidiano e sei que através dela também acedi e aprendi sobre os lugares, as paisagens e as relações humanas. Aí sempre morou igualmente a escrita, que me permitia desenhar lugares, descrevê-los com rigor geográfico e levar cada palavra ao sentir do lugar e da personagem.

Percebo hoje que como leitora e autora de um livro, a Geografia marca a minha escrita, como marcou um indeterminado número de autores, e é através dela que amplio a minha forma de descrever os lugares e até mesmo as personagens, que muitas vezes imagino, mas os quais me obrigam a olhar profundamente para as inter-relações entre o natural, o humano e o seu sentir.

A Geografia é assim um lugar-comum entre a ciência e a arte. Ela permite-nos ampliar a experiência do lugar, da pessoa e do sentir de quem nos lê.