Diné | Miguel Castro
Diné | Miguel Castro, Instituto Politécnico de Portalegre
Estou em Monument Valley, coração da Navajo Nation, na fronteira entre o Utah e o Arizona.
Shaye foi companheiro e guia nesta terra, onde a paisagem é impressionantemente estranha e cativante. Alto, magro, cabelo negro, liso, longo, apanhado em rabo-de-cavalo, com a serenidade atribuída aos nativos americanos.
Fui a locais saídos de Westerns. Vi tempestades de areia e neve no deserto. Visitei ruínas Anasazis, viajei pela Dinetáh, terra dos Diné (como os Navajos se auto-designam) e da qual não podem estar desligados. Estive em lugares secretos, assisti a cerimónias vedadas a estranhos e conheci uma lenda viva: Don Mose. Fiquei em dívida para com esta gente e espaço.
Chegámos a um hogan isolado. Entrámos na habitação, onde duas senhoras, vestidas tradicionalmente, nos preparavam um pequeno almoço típico. Sentámo-nos no chão, enquanto Don Mose, guardião da cultura Diné, contava a história do seu povo, tal como o avô a havia relatado. A língua nativa é única. Na Guerra do Pacífico, os Navajos foram servir os USA como Code Talkers. Usaram a língua para enviar mensagens em código que ninguém conseguiu quebrar!
Nesta habitação tudo tem significado. Tudo no território tem um significado sagrado, que liga o povo ao espaço. Montanhas, rios, desfiladeiros, mittens, spires e buttes, contam uma história. Estamos em Dinétah – onde o povo se liga com a paisagem cheia de significados místicos e míticos. Os Diné emergiram dos mundos inferiores para se estabelecerem neste território, onde interagem com The Holy People. A ligação dos Navajos ao território é um exemplo de Topophilia e Sense of Place, de Yi-fu Tuan.
Entre 1863 e 1866, mais de 10.000 Navajos foram removidos à força para a Reserva Bosque Redondo em Fort Summer (Novo México). Os militares obrigaram homens, mulheres e crianças a caminhar entre 400 e 725 Km, dependendo do percurso que tomaram. «(…) longe “dos abrigos, colinas e esconderijos do seu país”, iriam “adquirir novos hábitos, novas ideias, novos modos de vida”. ‘Civilizar’ os Navajo poderia ser mais bem conseguido através dos seus filhos: “Os jovens ocuparão os seus lugares sem estes anseios e, assim, pouco a pouco, tornar-se-ão um povo feliz e satisfeito”» (https://americanindian.si.edu/nk360/navajo/long-walk/long-walk.cshtml).
Resistiram à assimilação e continuaram a luta até regressar às suas terras.
Longe das tradicionais férias de sonho, este é um destino para viver um “sonho de férias”, aconselhável a Geógrafos!