# 77 Joana Fernandes

Nome: Joana Fernandes
Naturalidade: Matosinhos
Idade: 31 anos
Formação académica: Licenciatura em Geografia. Mestrado em Riscos Cidades e Ordenamento do Território. Pós-graduação em Sistemas de Informação Geográfica e Ordenamento do Território.
Ocupação Profissional: Geógrafa; Técnica de SIG; Técnica Superior Especialista em Estatística no Instituto Nacional de Estatística (INE).

1- Quem é a/o Geógrafo/a? Em que áreas trabalha e de que forma a Geografia faz parte da sua vida?
Ao longo do meu percurso académico os meus interesses incidiram sobretudo na Geografia Física, e, decorrente disso, iniciei o meu percurso profissional em torno da investigação de processos hidrogeomorfológicos e suscetibilidade a Riscos Naturais. Posteriormente, o meu percurso foi essencialmente como Técnica de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), em processos relacionados com o cadastro de infraestruturas existentes nos sistemas de saneamento de águas residuais e, também, como projetista de redes de telecomunicações. Atualmente aplico os SIG em temas relacionados com a população e edifícios, recorrendo também ao tratamento e processamento de informação geográfica, armazenada em bases de dados, através de uma linguagem estruturada de consulta.

2- Quais são os projetos para o futuro imediato? E de que forma valorizam a Geografia?
Os meus projetos futuros focam-se sobretudo na aquisição de conhecimento. Explorar novas técnicas e metodologias que me permitam valorizar as minhas competências, enquanto geógrafa, e ampliar o contributo que posso oferecer multidisciplinarmente. 

3- Se tivesse de definir Geografia em 3 palavras, quais escolhia?
Localização; Território; Paisagem.

5 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
A Geografia não foi, para mim, uma primeira escolha, mas sim uma incrível descoberta. Neste momento, consigo associar a geografia a tudo o que observo ou que me propõem executar. A facilidade do pensamento casuístico, de tudo o que vislumbramos, está muito presente no pensamento de um geógrafo. Perceber o território, a paisagem, os processos e fenómenos estabelecendo-lhes causas, dimensão espacial e temporal, estatísticas, estratégias de mitigação, previsão, ordenamento, planeamento e cartografando-os é algo intrínseco à Geografia.

6 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Penso que cada vez mais a formação em Geografia é reconhecida devido, sobretudo, à evolução na abrangência do conhecimento ligado às tecnologias de informação, e, por conseguinte, às valências que um geógrafo atualmente aporta. Nos dias de hoje, um Geógrafo detém conhecimento não só em Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mas também ao nível da Programação, Análise Espacial, Bases de Dados, entre outros, e, por conseguinte, o carácter multidisciplinar está cada vez mais vincado. Desta forma, o reconhecimento e a interação, no exercício da atividade, é muito mais dinâmico, na medida em que existe mais para oferecer às entidades que contratam. 

7 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Em primeiro lugar, diria que as oportunidades, para um geógrafo, são inúmeras e, por vezes desconhecidas. A Geografia está presente na maior parte das áreas do saber e, um geógrafo tem sempre um contributo valioso, diria que de uma forma transversal ao nível da geolocalização. Em segundo lugar, e, penso que o mais importante ao nível das responsabilidades, oportunidades e contributo para a sociedade, é a constante atualização do conhecimento, nos anos subsequentes ao término da formação académica de base. A Geografia tem um caráter holístico e, por isso, possui um grande potencial em vários subtemas que a compõem. A frequência em cursos, workshops, conferências, o autodidatismo e a iniciativa pela procura ativa de respostas, às questões que nos assolam enquanto geógrafos, são elementos-chave para constituir bons profissionais. Um Geógrafo que não se atualiza, terá um contributo muito singelo para oferecer a qualquer entidade empregadora. Por fim, a certeza de que o conhecimento que é partilhado multiplica-se deverá estar sempre presente no âmbito académico e profissional.   

8 - Comente um acontecimento recente, ou um tema atual (nacional ou internacional), tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Um comentário breve relativamente aos incêndios florestais. Na condição de geógrafa, porém, não especialista no tema, parece-me interessante haver uma crescente preocupação com a mitigação dos incêndios. Ainda que, a aposta nos meios de combate seja evidentemente necessária, o planeamento e ordenamento do território florestal deverá ser primordial. A par disso, também uma boa gestão da floresta, com uma visão integradora que valorize, da mesma forma, espécies autóctones de fauna e flora e, que permita restabelecer o equilíbrio dos ecossistemas garantindo-lhes mecanismos de resiliência. 

9 - Que lugar recomenda para saída de campo em Portugal? Porquê?
Recomendaria qualquer município da sub-região do Alto Minho. As paisagens panorâmicas, de grande diversidade geomorfológica, geológica, da fauna e flora constituem a singularidade desta sub-região. Com um património ambiental de extremo valor, o Alto Minho detêm o Parque Nacional da Peneda-Gerês, o único em Portugal e considerado Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco (Peneda-Gerês).  Também as áreas de paisagem protegida, das quais destaco a paisagem de Corno de Bico, em Paredes de Coura. As Serras, como por exemplo a Serra Amarela, com uma beleza ímpar, que abarca os municípios de Terras de Bouro e Ponte da Barca. Podemos ainda percorrer as lagoas, cascatas e praias fluviais, que nesta sub-região abundam e, exibem o que de mais puro a natureza nos oferece. Desta vez, menciono o Poço Negro e as lagoas da Travanca, ambas na Serra do Soajo. Não poderia deixar de referir as inúmeras aldeias que ainda conservam a geografia da paisagem ancestral, no seu máximo esplendor. Assim, evidencio a aldeia de Sistelo, conhecida pela paisagem moldada em socalcos, considerada monumento Nacional. Uma das melhores formas de conhecer a geografia da paisagem, numa perspetiva contemporânea, é através de passadiços, ecovias, ecopistas ou trilhos. Neste âmbito, sugiro a ecovia do Atlântico, em Caminha, a ecopista do caminho do Rio, em Vila Nova de Cerveira e, por fim, experimentem percorrer o trilho “Pertinho do Céu” com início e fim na aldeia da Gavieira, em Arcos de Valdevez. 
Com toda a certeza, o ensino da Geografia deveria ser mais “no terreno” e sem dúvida que o Alto Minho ilustra muitos dos conteúdos programáticos, sobretudo, no que se refere à Geografia Física.